Por Diego Caroli Orcajo
Provavelmente teremos alguns problemas com o título, porém não havia forma melhor de expressar a proposta do texto. Vamos lá!
Uma jovem acabou de descobrir que está grávida. Assim que o marido chega em casa ela lhe faz uma surpresa, e ao final, diz que estão esperando uma criança.
Ok, até aí tudo bem. Certo? Sim, correto! Porém peço-lhes que foquem atenção a um fato. Ao saber que uma criança nascerá, o casal de imediato se prontifica a idealizar diversas características desse novo ser – que ainda está longe de dar as caras.
Existem as idealizações orgânicas:
– “Será um menino”; “Será uma garota”; “Terá os olhos claros como os do pai”; “Os cabelos serão escuros e encaracolados como os da mãe”; “Será alto como o avô”; “Terá uma saúde perfeita”.
E também as aspirações intelectuais e comportamentais:
– “Será um grande médico”; “De repente jogador de futebol”; “Terá uma inteligência invejável”; “Ficará famoso(a)”.
Obviamente citei apenas alguns exemplos para que a compreensão fosse facilitada. Vamos adiante!
Alguns meses se passaram e adivinhem, a criança nasceu. Agora o nosso título começará a fazer sentido.
A criança que nasceu não é exatamente aquela que foi idealizada – a menos que os pais tenham excelentes dotes em prever o futuro, o que não creio ser possível. Desejaram uma menina, nasceu um menino. Desejaram uma criança plenamente saudável, porém a que nasceu tem sérios problemas cardíacos. Esperaram uma criança extremamente intelectual, porém a que nasceu tem uma síndrome que torna extremamente complexo o seu desenvolvimento cognitivo.
E aí? Simples. Para que uma criança possa receber todo o amor necessário de seus pais é preciso que algo ocorra. Já conseguem dizer qual o requisito mínimo?
Sim, uma morte precisa acontecer. E qual criança precisa morrer? A criança idealizada! Enquanto os pais não fizerem o luto pela criança idealizada estes serão plenamente incapazes de receber a criança real que ali se apresenta.
Legal, mas então só os futuros pais precisam se preocupar com as informações do texto?
Olhem, eu até gostaria que sim, porém eis uma problemática universal da qual nenhum de nós escapa.
Enquanto não elaborar o luto do antigo relacionamento, não será capaz de amar devidamente a atual ou próxima namorada. Enquanto não elaborar o luto dos pais que desejaria ter tido, da criação que gostaria ter recebido, não será capaz de enxergar e dar valor aos pais que de fato estão em sua frente. Enfim, poderíamos citar milhões de exemplos, porém julgo já ter trazido o suficiente para que o entendimento seja pleno.
O que desejo que vocês apreendam de tudo que foi dito? Cautela e atenção. De repente a incapacidade de progredir, seja uma dificuldade em abandonar os objetos e idealizações perdidos. Lembrem-se sempre, o mesmo passo que te coloca mais próximo de um ponto, é o que te afasta de outro. Não há movimento sem perda. O caminho da direita pressupõe o abandono de todas as possibilidades existentes no da esquerda.
Abraços e vamos nos falando!
Diego Caroli Orcajo. Águas de Lindóia