APRESENTAÇÃO DE FABÍOLA SIMÕES
Há uma frase no livro “Vista Chinesa”, de Tatiana Salem Levy, que diz: “Há coisas que, mesmo depois de terem acontecido, continuam acontecendo. Elas não te deixam esquecer porque se repetem todos os dias”. E foi isso que senti quando li “Quando um pé na bunda nos empurra para frente” (página oficial do livro), romance de estreia de Josie Conti.
Apesar do livro ser leve e divertido, tratando do tema de forma franca e desbocada, com humor até mesmo nos momentos dolorosos, também é de uma honestidade indiscutível, e traz à tona questões importantes, que não podem mais serem arquivadas, ou esquecidas no fundo de uma gaveta.
Com uma narrativa ousada e muito pessoal, Josie Conti conta a história de Diva, uma mulher bonita, independente, bem sucedida e interessante que volta a experimentar as antigas inseguranças; a reviver velhos traumas de infância e adolescência; e a duvidar de seu valor quando se vê dentro de um relacionamento que lhe oferece admiração – “a admiração dele é o poço que a seduziu” – e, em seguida, a rouba; deixando Diva num abismo para o qual ela jamais teria voltado sozinha.
Um romance corajoso, em que a narradora dá voz à todas as mulheres que um dia se sentiram abandonadas – seja por um (a) companheiro (a), por um pai, ou por si mesmas. Uma narrativa construída em cima dos silêncios perversos, descaso, humilhação e violência, mas também da sobrevivência, do confrontamento e superação dos traumas do passado e, finalmente, da vingança no melhor sentido da palavra: transformando o “Pé na bunda” numa catarse, numa exposição das feridas e gangrenas – sem receio delas parecerem feias ou causarem repulsa – na aceitação de nossas estranhezas e inadequações, no perdão e reconciliação com nossa história (com todo o mel e fel de que ela é feita).
Diva é a síntese de todas as mulheres brilhantes, doces e fortes que um dia já se sentiram poderosas e realizadas, mas também daquelas que colocaram tudo a perder e voltaram a sentir-se um lixo após uma decepção amorosa. Diva é aquela que um dia chorou na porta de alguém implorando por migalhas de atenção, mas também daquela que soube rir muito de si mesma, perdoando o capítulo de sua vida em que amou demais, se despedaçou demais, mas, igualmente, limpou o rímel borrado, consertou o salto agulha do sapato e voltou mais amadurecida e mais segura de si para a própria existência.
Uma história arrebatadora e necessária, que vai te prender do começo ao fim. Boa leitura!
Fabíola Simões, em texto de apresentação sobre o livro
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NOTA DA AUTORA
Neste livro, o pé na bunda que habita em mim, faz o convite para uma conversa franca e desbocada com o pé na bunda que habita em você. E, para que o diálogo aconteça de uma maneira que realmente funcione, eu e você precisamos combinar que não mediremos palavras: iremos do palavrão à poesia e caminharemos para além do ridículo. Este é um livro onde o queonde aquilo que a sociedade considera feio e sujo será permitido; até mesmo bem-vindo. Eu me recuso a falar só de coisas bonitas. Por quê? O primeiro motivo é simplesmente porque eu quero e porque me permito. Afinal, por que eu deveria ter limites para usar essa ou aquela palavra para traduzir da melhor forma como eu estou me sentindo? Ou você já viu alívio mais perfeito para a dor do que gritar em alto e bom som um grande, prolongado e musical “IMBECIL, PORRA! QUE DOR, CACETE!” Você já viu? Eu não.
Já o segundo porqueporquê, é que este é um livro sobre amor, família, perdas,, escolhas equivocadas e individualidade. Assim, falar de “pé na bunda” é encarar que mergulharemos nos olhos tristes do abandono, sentiremos o frio do desamparo e nos veremos completamente impotentes diante da necessidade de mudar, sobretudo quando essa mudança não foi uma opção.
Quando libero o palavrão, então, apenas compartilho com você a permissão para demonstrar um pouco desse sentimento que rasga o seu peito de forma visceral e que procura formas primárias de encontrar uma saída. Esse Este livro é um berro porque essa para a dor que precisa transbordar. Deixe-a sangrar.
O fato é que, com ou sem o seu consentimento, ela escorrerá em palavras, vazará pelos poros, cairá em lágrimas, será o ranho que escorre do nariz e marca a manga do seu pijama explicitando a sua impotência. Ela ecoará em um choro gutural e incontrolável que te assolará durante a madrugada, criará chagas em suas costas, mas também será o sarcasmo e a piada infame que tornará o intolerável um pouco mais leve. Ela fará muito barulho antes de se tornar compreensão.
Eu sei, talvez sua dor seja mais polida do que a minha, e talvez você nem se identifique com o uso de palavrões. Tudo bem. É lógico que o uso desses destes termos menos nobres pode ser entendido de forma figurada. O que eu quero dizer, entretanto, é que se a sua dor doer na imperfeição, isso é normal. O fim de um ciclo revela nossos escombros, mas também mostra verdades escondidas. Por enquanto, há muita poeira e nebulosidade em um local onde certezas foram destruídas. Quando um relacionamento acaba, algumas vezes já esperávamos que isso viesse a acontecer; outras vezes, é um enorme susto. Então, se acabou, pode doer. Doa pra caralho. Ria de nervoso, se for preciso.
Eu aceito a sua sujeira. Aceite-a também.
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Título: Quando um pé na bunda nos empurra para frente
Autora: Josie Conti
Editora: Sultana Produções
Página oficial do livro em Josie Conti
Versão impressa pela Sultana Produções
Versão online pela Amazon
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