Não posso pegar na mão um coração machucado pelo meu não.
Toma, ele é todo seu, não fui eu quem inventou, quem bombeou, quem insistiu em sentir.
Não sou eu que vou te curar com a minha não vontade de amar, a compaixão que eu poderia ter só te faria ainda mais sofrer.
É seu esse coração machucado, esse amor órfão, solto, belo… É todo seu.
Aqui em mim ele é um assunto que não me toca os olhos, é um filme que não me interessa, é um livro que não me despertou os sentidos, eu nem abri, é uma estrela que não acendeu no meu céu.
Eu não quero receber, como poderia tratar, cuidar, ajudar? Eu, que se escrevo estas palavras, gastando linhas explicando o inexplicável. Dando atenção para alguém que quer toda a atenção do mundo.
Culpar o ser amado, encontrar uma razão para odiar, me fazer falar qualquer coisa para me incriminar nesse ato que não quero participar.
Aceite que em mim mora a indiferença, aceite que o que é enorme em você em mim não faz cócegas, aceite que eu não vou segurar com cuidado o seu coração, acalmá-lo e devolvê-lo renovado, embrulhada para presente. Eu lavo minhas mãos, não faço o bem nem o mal.
Eu sei sim o que é se sentir assim, mas vai por mim: você ficou na mão com seu coração.
Se deixá-lo aqui, ele vai ficar perdido em alguma das gavetas que eu não abro. Eu não criei nada, seu coração viu em mim estradas (que são belezas suas!) e o amor nasceu por partenogênese.
Não se desespere também, não precisa matar nada, ame o vento, o ar, a árvore, ame a vida!
Gaste seu amor, se apaixone pela própria beleza das ilusões erva daninhas, insistentes em crescer bonitas nos cantos mais absurdos. Deixe que cresça em você uma trepadeira, primavere-se desse amor.
É pra isso que ele veio acima de tudo, eu sou só o pretexto.
Toma, o amor é seu