Por Patrícia Dantas
Algumas sensações são como explosões dentro da gente. Não precisa falar nada, elas vivem como um ser pulsante que corre em disparada a algo que nem sempre conhecemos, mas que está prestes a provar de uma nova aventura. Sabe quando você se torna a pessoa imprevisível de uma situação comum e normal, sem nada que fuja do ritmo habitual, sem que haja nenhuma transgressão? Apenas você começa a acontecer de uma forma inusitada, um pouco fora dos seus padrões.
Hora do almoço. Todos os lugares se acotovelam, as pessoas estão apressadas, temendo que o tempo fique contra elas, fazem tudo tão rápido e sem pensarem muito, sempre correndo o risco de não chegarem a tempo ao lugar de sempre. É a hora que voa, mas que dá para durar mais psicologicamente e alimentar mais que o estômago – que gritem as nossas manias secretas e insaciáveis.
Saí do trabalho com pressa de provar, experimentar algo, como quem diz que em uma hora dá para saciar todos os tipos de gostos, não só o da comida. Passei por dentro de um pequeno shopping à beira mar, olhei algumas vitrines, vasculhei umas duas lojas de roupas, e por fim entrei numa livraria nova, minúscula, mas aconchegante, que ia dos clássicos aos últimos lançamentos. Camilo Castelo Branco, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Agatha Christie, Jane Austen, Virgínia Woolf, Balzac, Baudelaire, John Green, E L James, Letícia Wierzchowski, Alain de Botton, Raphael Montes, Thalita Rebouças, Edney Silvestre, Julianna Costa, Isabela Freitas, Martha Medeiros! Folheei, cheirei, abri livros e mais livros, best-sellers, e nada!
Tão logo me deparei com uma confissão íntima: estava lendo um livro de crônicas, outro de poemas, um romance que já estava quase no finalzinho e um livro teórico sobre um curso de marketing que estava fazendo. Como comprimir tudo aquilo na cabeça, como na estante do escritório lá de casa? Balela! Muito daquilo, ou mais de noventa por cento, seria esquecido nos próximos meses ou nas horas de chegadas imprevisíveis. Mas sentia um prazer irrepreensível em estar por dentro de todas aquelas palavras e histórias misturadas e ao mesmo tempo encaixadas em minha cabeça. Se parasse para pensar, era tudo apavorante diante de tantas coisas a cumprir no dia a dia, mas era o que me tirava do louco locus humano.
Deixei tudo num raio de segundos, desci a escada rolante que dava para uma loja de chocolates, à esquerda, entrei quase em exaustão a procurar o tal do algo que ainda não encontrara. Talvez estivesse tudo ali naquelas prateleiras coloridas e de todos os tipos de chocolates, amargos, brancos, ao leite, com licores, castanhas, avelãs, para todos os gostos! Na minha cestinha não cabia mais nenhum tipo daquelas delícias, eu catara tudo o que via pela frente. Ia empurrando as pessoas que escolhiam tranquilamente seus chocolates, sem notarem minha presença aflita e descontrolada. Para o quê, ninguém saberia responder ou teria alguma pista. Estava ali o antídoto.
Aproximei-me do balcão, olhei a moça de olhos castanhos nos olhos, em tom de um contentamento que transbordava, e falei baixinho: “Mais chocolates, por favor! “. É que olhara por trás do balcão e percebi que ali havia uma mesinha que vendia chocolates a peso. Não me contive, a inquietação só aumentou, chegou ao seu último tom, a sua última nota se gastara sem completar o roteiro original. Estava no auge da minha insaciedade (ou insanidade) para me compor, por algo que não descobrira, mas apontava um caminho doce, leve e prazeroso: a total presença dos sentidos.
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