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Sempre tive certa resistência quanto a tratamentos dentários. Dentistas, para mim, sempre foram sinônimo de dor e sofrimento.
Minhas experiências com dentistas – que dizem respeito à minha infância até 9/10 anos – remetiam à aflição e insensibilidade por parte de quem me atendia. Essa percepção mudou quando conheci minha atual dentista. Com ela, é diferente.
Começando pela sala de espera, em que normalmente reina aquele silêncio ansioso, lá a música está sempre rolando. De MPB a pop internacional dos anos 90, da bossa nova aos clássicos do rock. Hora ou outra, você inevitavelmente esquece o que lhe espera. A criançada tem acesso a brinquedos e a um bom acervo de histórias em quadrinhos (esse é um detalhe importante).
Parênteses: lembro-me bem de, ainda pequena, ler, no consultório dessa dentista, um quadrinho da Turma da Mônica (que levo comigo até hoje), em que alguém, irritado com uma situação pela qual tinha passado, descontava sua raiva em um outro alguém, que, por sua vez, maltratava outro personagem, e assim por diante. Ao final da história, alguém quebrava a corrente de Frustração-Agressão, que parece uma analogia à teoria de psicólogos americanos (Dollard, Dood e Miller), assim nomeada. A teoria inicial dos três pesquisadores é simples. Temos uma tendência a reagir agressivamente a situações que nos frustram, descontando, normalmente, essa raiva em outra pessoa.
Deixemos as teorias de lado e voltemos ao consultório. Música, quadrinhos, brinquedos, nada disso me acalmaria, se minha dentista não me tratasse bem. Sua calma, sensibilidade, bom humor e preocupação com as possíveis dores que seus clientes venham a sentir, fazem com que a consulta dentária deixe de ser o pesadelo que comumente é.
Agora, façamos a ponte e complementemos a teoria de Dollard: do mesmo jeito que raiva e frustração podem originar a agressividade, por exemplo, a calma e a sensibilidade são potenciais geradoras de tranquilidade e confiança. Vou além, recorrendo à citação do filme sobre a vida de Patch Adams – médico famoso nos Estados Unidos por seus métodos nada ortodoxos: “A transferência é inevitável. Todo ser humano causa impacto nos outros.”.
Aqui para nós, a forma como tratamos e nos relacionamos com as pessoas ao nosso redor tem influência direta sobre seus sentimentos e emoções. A falta de empatia ou o mau humor de um profissional, às vezes, vai longe em uma corrente dessas, como no quadrinho da Mônica.
Por outro lado, a calma, a humanidade, a tranquilidade, como no exemplo de minha odontóloga, também são “transferíveis”, “espalháveis” e podem, inclusive, neutralizar ou diminuir medos e ansiedades.
Então, diga-me: que correntes você tem quebrado? Que tipo de sentimento você tem espalhado? Para que tipo de ciclo você tem contribuído?