Ivonete Rosa

A tristeza é como aquela visita incômoda: chega sem avisar.

A tristeza pode ser perfeitamente comparável àquela visita incômoda que gosta de aparecer sem ser convidada, e que raramente tem a elegância de avisar que vai dar o “ar da graça”. Conviver com uma visita indesejável é muito desagradável, pior ainda quando ela cisma de frequentar a nossa casa com muita frequência, forçando uma intimidade que rouba a nossa paz e nos irrita profundamente. Nem sempre é fácil nos desvencilharmos desses intrusos, mas é possível adotarmos alguns comportamentos que, ao longo do tempo, desmotive esses inconvenientes de nos importunar.

A tristeza, tal qual uma visita indesejada, pode aparecer sem aviso prévio. Ela pode surgir numa manhã de domingo, ainda que o sol esteja brilhando lá fora, bem como no meio da madrugada com o intuito de amanhecer conosco e atravessar o dia em nossa companhia. Essa visita, tão incômoda, gosta de chegar sem pressa para ir embora, tudo o que ela deseja é um lugar em nossa alma para se infiltrar e permanecer o máximo de tempo possível. Então, faz-se necessário adotarmos alguns comportamentos para que ela sinta-se cada vez mais desconfortável e constrangida ao se aproximar de nós.

Comecemos por não dar muita atenção a ela, certamente, em alguns casos, não será possível impedir que ela nos visite, mas podemos abreviar ao máximo a sua permanência conosco. Considerando que, em se tratando de pessoas, elas tendem a se sentir acolhidas quando ofertamos alimentos saborosos e quando somos atenciosos, podemos fazer uma analogia com a visita da tristeza. Então, façamos o contrário, sempre que a tristeza chegar, demonstremos o mínimo de acolhimento a ela. Sejamos formais, e deixemos claro que estamos ocupados ou indispostos para que ela não se achegue de vez. De preferência, faça alguma atividade durante a visita dela, seja tirar a poeira de um móvel ou arrumar uma gaveta. Não convém convidá-la para sentar-se numa poltrona confortável, aliás, pensando bem, o ideal é que ela nem se sente. Pergunte a ela o que ela pretende e de onde veio, e, dependendo da origem dela, cometa uma afronta: coloque uma música bem contagiante e comece a dançar enquanto você olha dentro dos olhos dela, deixando claro que ela está sobrando naquele ambiente. Então, aos poucos, ela irá dissipar-se como uma neblina no pico da montanha quando o sol vai surgindo bem arregalado.

A tristeza é como aquela visita folgada, ela vai tornar-se frequente se for bem recepcionada e se receber um banquete a cada vez que chegar na casa de alguém. Então, ao invés de ofertar aquele sorvete cremoso, oferte, no máximo, um copo com água natural. Evite dar ouvido ao que ela tem a dizer, geralmente não vale a pena. Contudo, há dias em que, talvez, ela mereça ser olhada nos olhos. Em determinados momentos, não convém ignorá-la, pois pode ser que ela esteja trazendo um comunicado muito importante, algo de relevância, que mereça uma intervenção e um cuidado especial.

Então, cabe-nos diante desse sentimento tão assolador, o exercício de uma percepção cada vez mais apurada. Precisamos saber exatamente quando dar atenção a ele e quando devemos simplesmente ignorá-lo. Por vezes, ele merece um acolhimento todo especial. Mas há momentos em que ele chega apenas para tentar tumultuar onde reina a paz. Então, cabe-nos esse olhar atento para dar, a cada um, a atenção ou a indiferença que merecer.

Imagem de capa: Mark Nazh/shutterstock

Ivonete Rosa

Sou uma mulher apaixonada por tudo o que seja relacionado ao universo da literatura, poesia e psicologia. Escrevo por qualquer motivo: amor, tristeza, entusiasmo, tédio etc. A escrita é minha porta voz mais fiel.

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