Não faltam histórias de mulheres guerreiras que, pelos mais diversos motivos, criam seus filhos sozinhas. E, embora saibamos dessa realidade, a ilustração das mães como “únicas fontes de cuidado e amor” pode ofuscar a participação e o fundamental papel que os pais também têm na criação dos filhos.
O amor verdadeiro não tem sexo, papel hierárquico e nem mesmo precisa acontecer por um dos progenitores de uma criança. O amor verdadeiro é aquele que é emocionalmente sempre presente, que se alimenta da alegria, mas que também cresce e aproxima ainda mais em momentos de dor. É por ele, e só por ele, que as pessoas são capazes de se transformar e se adaptar aos mais variados e até cruéis golpes do destino.
Assim aconteceu com Rodrigo Leite Segantini, um homem que antes se definia como advogado, mas que a vida tornou, mais do que tudo, “pai”.
Duas grandes e traumáticas dificuldades que envolveram a sobrevivência e a luta pela vida transformaram o Rodrigo: a primeira delas foi o nascimento de seu filho Arthur, que veio de uma gestação complicada e de um posterior parto prematuro e com sequelas que exigiram, na época, um período prolongado em UTI´s, cirurgias e muito cuidado até que Arthur estivesse plenamente bem e saudável para enfrentar a vida; a segunda, 3,5 anos depois, foi um acidente gravíssimo com sua esposa Adriana, e que a deixou em coma por meses. Durante o longo processo de coma, Arthur começou a pedir pelo pai.
Arthur reclamou que sentia saudades de mim – e eu entendi que ele estava me dizendo que estava compreensivelmente sem a mãe e inexplicavelmente sem o pai.
Qualquer pessoa que já passou por uma situação de grave doença e perdas significativas na família sabe como absolutamente tudo muda: mudam as prioridades, muda a rotina, muda a relação com outras pessoas que estão em volta e, o mais forte de tudo, mudam internamente os envolvidos.
Readequei toda a minha vida para ficar com meu filho. Fiz graves e severas mudanças em minha rotina de trabalho e no meu convívio social para poder me dedicar ao Arthur e dar a ele toda a cobertura que ele reivindicou e que precisava enquanto esperávamos pela recuperação da Adriana. Até que a Dri partiu, em julho de 2014.
Por mais próximos que estejam os amigos e outros familiares, nem tudo pode ser sanado por eles e apenas o tempo pode dizer como todos esses sentimentos e vivências serão reorganizados.
Desde então, eu e o Arthur seguimos sozinhos. Embora seja difícil, não precisa ser triste. Pontuamos nossas vidas com muitas brincadeiras e traquinagens para que a alegria seja polvilhada em cada momento nosso. Inesperadamente, passamos a ser vistos como exemplos, as pessoas se surpreendiam porque, apesar de tudo o que passamos, conseguíamos seguir adiante. Palavras como superação, resiliência, auto-eficiência passaram a ser muito associadas a mim e ao Arthur.
Se para seguirmos precisamos sempre encontrar um sentido, foi o amor que fez com que Rodrigo continuasse. Certamente esse mesmo amor canalizado pra a construção do futuro de uma criança gerou força motriz para que ele acordasse, dia após dia, e seguisse.
Quando o destino os abraçou para um novo voo em que partilharam suas asas tão feridas, isso os uniu de forma ímpar. Talvez seja essa união pela sobrevivência, quase simbiótica, algo similar a que acontece no começo da vida, período de total dependência de um dos seres em relação ao outro. Aquela fase em que o bebê nem sabe que existe ele e a mãe, pois entende o corpo da mãe como um prolongamento de si mesmo. O tempo, mestre dos mestres, mostra outros caminhos e com certeza vem trazendo novas maneiras de viver com todos voando com suas próprias asas.
Hoje, Rodrigo assumiu com todas as suas forças o papel de super pai e esconde sob a capa os buracos de sua humanidade que ainda luta para administrar frente a tantas mudanças e perdas. É um verdadeiro herói para o filho que fala dele com brilho nos olhos. Aos poucos, certamente, Rodrigo também saberá a hora de revelar suas fragilidades e carências, o que certamente os unirá ainda mais.
Quando estive no hospital, seja por causa do Arthur, seja por causa da Adriana, tudo o que eu queria era ter alguém com quem conversar, para contar o que eu estava sentindo, que pudesse me dizer que sabia que tudo aquilo iria passar. Várias pessoas apareceram em meu caminho com este propósito e algumas até me ajudaram. Mas, no final, eu estava sempre sozinho. Minha proposta é não deixar ninguém sozinho, é estar sempre à disposição para conversar, para trocar ideias e ajudar.
Mas, o que importa, é que hoje eles podem voar juntos não mais porque são vitimas de perdas e sofrimento e sim porque seu voo é calmo e feliz.
Hoje, o Arthur está ótimo! Vivemos grandes aventuras juntos!
Conheçam a página do Rodrigo e do Arthur no Facebook “Tudo pelo meu filho”, curtam, compartilhem seu conteúdo e comentem. Todos estão convidados a seguir essa jornada de amor e superação num espaço onde ninguém precisa ficar sozinho.
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