Há dias, vinha planejando dar uma faxina caprichada na minha cozinha. Mas, estava sempre protelando, então, fazia a limpeza básica e ia deixando sempre para um “próximo fim de semana”. Daí, fazendo o almoço, acabei derrubando, acidentalmente, uma panela de óleo que estava na beirada da pia. Um verdadeiro desastre, aquela lambança, sorte que o óleo estava frio. E, sabe o que aconteceu? Acabei tendo que fazer a faxina naquela hora. Eu não tive como “deixar pra depois,” a coisa ficou feia, literalmente. Arregacei as mangas e limpei tudo, deixei a cozinha impecável.
Enquanto limpava, me pus a pensar nas coisas do cotidiano e a fazer analogias. Me veio à mente aquelas situações que vamos empurrando com a barriga até chegar num ponto insustentável. Querem exemplos? Tome este: aquela ida ao médico que a pessoa evita, mesmo quando o corpo sinaliza que algo não vai bem, daí, tempos depois, uma doença grave se manifesta obrigando o sujeito a ficar internado num hospital, inclusive numa UTI. Nem vou lembrar dos casos fatais.
Outro exemplo? Aquela reeducação alimentar que a pessoa precisa fazer, por prescrição médica, que é negligenciada. Chega num ponto em que o organismo não aguenta mais, e ela, numa consulta de emergência se vê obrigada a abrir mão de quase tudo o que ela comia. Nessa hora, ela vai obedecer, já não é mais possível fazer vista grossa às recomendações médicas. É uma questão de sobrevivência. Pois é, se ela tivesse sido cuidadosa desde o primeiro alerta que o médico fez, possivelmente, estaria tranquila. Mas, brincou com coisa séria, então, as consequências serão mais severas.
É sempre assim, quando negligenciamos a manutenção, teremos que nos desdobrar na reconstrução, isso quando é possível. Diante da possibilidade de reconstruir, tudo acaba saindo mais caro e desgastante. Nos contextos em que a reconstrução está descartada, resta-nos a frustração da perda irreversível.
As negligências nas manutenções acontecem em quase tudo que podemos imaginar. No carro, na casa, na conta bancária, na saúde, na atenção aos filhos, nas amizades…no casamento. Como Bombeira, conheço esse lema: o incêndio ocorre quando a prevenção falha. Fato.
Especialmente nos relacionamentos, quem não cuida, quem não se importa, quem não valoriza o parceiro está assumindo o risco de ficar sem ele. Chega uma hora em que a estrutura vai ruir e, talvez, nada mais poderá ser feito. Os descasos, os “tanto faz,” a indiferença são as intempéries das relações. Eles acabam deteriorando a beleza do vínculo. São ferrugens que minam o encantamento, a libido, o respeito.
É uma questão de inteligência e economia, sai muito mais barato cuidar daquilo que conquistamos, do que consertar os estragos. Porque depois que o leite derramar, já era.
Então, é melhor não pagar para ver certas consequências. As pessoas espertas aprendem com os erros alheios, elas não esperam acontecer com elas. Elas são atentas, elas enxergam longe.
Imagem de capa: Wallenrock/shutterstock
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