O tempo é mágico, cura feridas, amortiza as dores, traz conhecimento e sabedoria, fortalece o que sentimos, enterra o que deixamos de sentir e traz as verdades por que tanto ansiamos. Um dos maiores favores que podemos fazer a nós mesmos é saber aguardar a passagem do tempo – enquanto agimos, jamais passivamente -, pois sempre haveremos de colher de acordo com o que plantamos, e na hora certa.

Há tempo para falar. Para expressarmos nossos sentimentos a quem amamos, colocarmos nossos pontos de vista, ensinarmos nossos filhos, discutirmos nossos relacionamentos. Acumular sentimentos dentro de nós o tempo todo adoecerá nossa alma e nosso corpo. É necessário dizermos o que e como nos sentimos, com as pessoas certas, nos momentos apropriados. Temos sempre muito a dizer, por menos que acreditemos nisso, pois somos únicos e especiais à nossa própria maneira.

Há tempo para silenciar. Encontrarmos os momentos adequados para nos expressarmos vai fazer toda a diferença em nossas vidas. É preciso que o outro esteja aberto a receber o que temos a oferecer; caso contrário, estaremos fadados a ecoar no vazio inútil do qual ninguém sai fortalecido, muito pelo contrário. No calor das emoções, por exemplo, tendemos a proferir palavras ofensivas, rancorosas e, muitas vezes, não correspondentes às nossas verdades. Nada disso vale a pena nesses momentos, apenas o silêncio.

Há tempo para plantar. É preciso cultivar e cativar as pessoas que nos amam verdadeiramente, dia após dia, pois com elas poderemos contar quando precisarmos de mãos amigas nos afastando dos fantasmas de dentro de nós. Discernir entre quem precisa do que somos e quem apenas precisa nos usar em proveito próprio nos ajudará a caminhar mais tranquilamente por caminhos mais transparentes. Somente assim conseguiremos preencher os vazios de nossa essência, de forma a que não nos percamos na solidão da amargura e do arrependimento.

Há tempo para colher. Ninguém fugirá ao enfrentamento das conseqüências de tudo o que fez ao longo do caminho. Todos colheremos exatamente o que plantamos. Todos estaremos rodeados pelo tipo de gente com quem priorizamos conviver enquanto caminhávamos. Todos nos encontraremos no lugar que fizemos por merecer. Diariamente, temos de escolher, dentre as muitas opções que se nos descortinam, e essas escolhas determinarão o tipo de vida que viveremos e que nós mesmos escolhemos viver. Vale lembrar que, como diz o ditado, quem semeia ventos colhe tempestades. Semeie paz.

Há tempo para ser. Temos que ser crianças, adolescentes, jovens e idosos na idade certa. Não adianta querer correr contra o tempo ou lamentar-se sem parar pelo que não fizemos, não dissemos. Vestir-se tal qual um adolescente, quando na meia idade, por exemplo, partindo em busca de um tempo perdido que não volta mais, não trará felicidade, tampouco compensará o que se perdeu pelo caminho. Certas coisas podem ser obtidas, não importando a idade que se tenha, porém, algumas delas terão que ser esquecidas – é necessário saber do que abrir mão para sempre.

Há tempo para sofrer. Inevitavelmente, passaremos por muitos momentos de dor, decepções, perdas e sofrimentos enquanto construímos nossos caminhos. Teremos que nos permitir sofrer a dor de nossas angústias, o frio das escuridões que nos rodeiam, enfrentando os dissabores desnudados de simulacros, para que possamos recolher nossos cacos e nos reerguer com dignidade, a cada amanhecer. Estaremos cada vez mais fortes e certos de nossas verdades após os reveses que avassalam, mas não matam. Enquanto houver vida, nossos sonhos nos alimentarão.
Há tempo para sorrir. Ninguém será feliz o tempo todo, sobretudo porque nossa felicidade é uma meta a ser buscada continuamente, portanto, não deverá nunca estar completa. Do contrário, estacionaríamos no tédio, pois nada mais teríamos a alcançar em nossas vidas. Somos felizes exatamente enquanto buscamos satisfazer nossas necessidades e sonhos; somos felizes enquanto o raio de nossas boas ações alcançam várias pessoas. Porque a felicidade é contagiosa e se espalha rapidamente.

Há tempo para se entregar. Não poderemos nos doar o tempo todo, incondicionalmente, ou nos perderemos de nós mesmos e daquilo que nos define. É preciso saber o que e quem merece nossa entrega, de forma a que nos lancemos a relacionamentos que nos tornem melhores e mais humanos. Sempre precisaremos estar atentos ao nosso bem estar, pois dele dependerá estarmos felizes em nossos compartilhamentos de vidas. Certos momentos nos pedirão distanciamento do outro, pois estaremos bens e completos sozinhos, nos preparando para receber novamente alguém em nossas vidas, na hora certa. Unir-se deve implicar sempre ganhos e soma, jamais perdas ou subtração.

Há tempo para adeus. É preciso despedir-se de pessoas, de coisas, de momentos, de sentimentos. Veremos muitos que amamos partindo, para outra cidade, para novas amizades, novos amores, para outro país, ou mesmo partindo de sua existência aqui na terra. Teremos que estar preparados para as separações, sempre acreditando em novos recomeços e guardando, em nossa memória, momentos especiais junto àqueles que nos são importantes – tais lembranças ajudarão a acalmar nosso coração em meio à dor da saudade, bem como também estaremos presentes e perpetuados nas memórias de quem nos amou, quando partirmos.

Como se vê, o tempo é o mestre de nossas vidas, pois nos disponibiliza infinitas possibilidades de nos aprimorarmos e de nos reinventarmos, aprendendo com os erros e crescendo com os acertos. Embora ele também seja impiedoso e não nos poupe das inevitáveis colheitas, por mais dolorosas que possam ser, possui uma capacidade consoladora e reconfortante que nos é deveras útil na sobrevivência após os maremotos emocionais. Caso estejamos agindo de acordo com propósitos honestos, sem atropelar a dignidade alheia, e nos cercando de pessoas com amor recíproco e sincero, o tempo sempre correrá em nosso favor, tornando-nos, dia após dia, mais sábios, verdadeiros e prontos para buscar a felicidade, cheios de esperança e de amor para dar e receber.

Imagem de capa: Denis Andricic/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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