Um berço para uma borboleta

Por Lúcia Costa

O menino de seis anos encontra uma borboleta morta no para-choque  do carro do pai e pergunta:

_ Pai, por que essa borboleta morreu?

_ Ah, filho, ela foi atraída pela luz do carro, durante à noite, quando voltávamos da casa da vovó e chocou-se com o para-choque.

_ E elas não dormem durante à noite, pai?

_ Borboletas não dormem,  Miguel.

_ Então por que a gente não dá o bercinho de Giovana a ela? É só colocar ali no quintal e desligar a luz, pronto. Elas dormem e não morrem.

_ Borboletas não precisam de berço para dormir, filho. Elas são bichos, entende, BICHOS?!

_ Como sabe que não precisam, pai? O senhor já fez algum bercinho para uma borboleta? Por acaso conhece alguém que faça esse serviço?

O pai calou-se enquanto o filho o olhava fixamente. Esperava uma resposta…  O menino começou a pensar em como seria o bercinho, quem embalaria o sono da borboleta. Chegou a ver uma libélula cantarolando uma música feliz. Um véu azul poderia proteger a borboletinha de insetos enquanto dormia, pensava.

O homem estava imóvel. As palavras sumiram. Deu a volta por trás do veículo e entrou em casa. Sentou-se e também ficou a imaginar como seria um berço para borboletas.

Miguel continuava a pensar e até já imaginava pijaminhas para borboletas. Deteve-se em seus pensamentos enquanto continuava a recolher, com todo cuidado, as borboletas mortas no para-choque.

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É professora de Língua Portuguesa, mora em Patos, PB e escreve poemas, contos, crônicas…