Texto de Jennifer Delgado
Todas as emoções não são iguais nem encontram o mesmo grau de aceitação em nossa sociedade. A emoção mais aceitada é a felicidade, basicamente porque é um sinal de segurança, confiança e êxito. Por isso nos vemos obrigados a fingir felicidade, respondemos que estamos bem e esboçamos um sorriso, mesmo que por dentro estamos destroçados. Já que a felicidade nos assegura um êxito social, nos faz ganhar amigos e transmite uma imagem de êxito.
A tristeza, entretanto, está catalogada como uma emoção negativa, uma emoção que se deve esconder e que inclusive deveríamos ter vergonha. As expressões da tristeza, com os ombros caídos, o olhar triste e o choro, são considerados sinais de debilidade e insegurança.
Uma sociedade que sempre demanda que estejamos felizes e alegres, dispostas a comermos o mundo, simplesmente é tremendamente injusta. Porque não funcionamos assim, frequentemente nos entristecemos. Estigmatizar a tristeza só serve para nos fazer sentir pior, para que pensemos que não somos o suficientemente fortes como para aguentar os problemas sem virmos abaixo.
Entretanto, na realidade as pessoas que se atrevem a expressar sua tristeza e choram, tem um maior equilíbrio emocional do que aquelas que reprimem as lágrimas e escondem seus sentimentos. Um provérbio irlandês diz que “As lágrimas derramadas são amargas, mas mais amargas são as que não se derramam”.
Por que as pessoas que choram são mais equilibradas emocionalmente?
Se você se sente eufórico de alegria, esconderia seu sorriso? Se escuta um som alto na casa a noite, não lhe assustaria? Então, no há motivos para esconder a tristeza. Só as pessoas seguras de si mesma, com uma grande Inteligência Emocional, são capazes de reconhecer suas emoções e expressá-las, mesmo que estas sejam consideradas “negativas”. É necessário muita coragem para nadar contra a corrente e expressar quem você realmente é ou como se sente nesse momento. Na verdade, o filósofo Séneca afirmou que “Não tem maior causa para chorar que não poder chorar”.
Manter a mente fria e reprimir as emoções tem um grande custo, não só para nossa saúde psicológica como também física. Numerosos estudos tem vinculado a repressão emocional com um maior risco de desenvolver enfermidades como asma, hipertensão e patologias cardíacas. Curiosamente, um estudo realizado na Universidade de Standord descobriu que as pessoas que costumam reprimir suas emoções agem ante a pressão e ao estresse de maneira exagerada, com um maior aumento da pressão arterial que as pessoas catalogadas como ansiosas. Isto nos indica que essa “calma aparente” na realidade não é boa para nosso equilíbrio emocional.
Você sabia que as lágrimas aliviam o estresse, a ansiedade, a dor e a frustação? As lágrimas no só são a água que limpamos a alma senão que também limpamos nossos olhos, para permitir-nos ver a situação a partir de outra perspectiva. As lágrimas nos fortalecem e nos permite crescer. Com já dizia a poeta uruguaia Sara de Ibáñez: “Vou chorar sem pressa. Vou chorar até esquecer o choro e alcançar o sorriso”.
Na verdade, 70% das pessoas pensam que chorar é reconfortante. E que o choro nos permite ver a situação por uma perspectiva mais positiva. Quando terminamos de chorar, nossa mente se encontrar mais clara e, e em poucos minutos seremos capazes de analisar a situação a partir de outro prisma. Isto se deve a que nossas emoções se equilibraram e nossa mente racional está preparada para entrar em ação.
Sabia que o choro estimula a liberação de endorfinas em nosso cérebro, que nos ajudam a aliviar a dor e também fomentam um estado de relaxamento e paz? É por isto que depois de chorar, nos sentimos muito melhores e relaxados. Na verdade, foi verificado que não é conveniente cortar o choro, mas deixar que flua porque a primeira fase só tem um efeito ativador mas a segunda fase tem um efeito calmante que reduz a frequência cardíaca e respiratória, propiciando um estado de relaxamento. Ás vezes, o choro é mais benéfico que o riso.
Um estudo realizado na Universidade da Florida descobriu que o choro é profundamente terapêutico, sobretudo quando se une com um “remédio relacional”, ou seja, quando se aproxima outras pessoas e estas nos dão consolo. Também perceberam que o choro triste, esse que está destinado a criar novos vínculos depois de uma perda, tem um poder catártico.
As pessoas que não tem medo de chorar se sentem muito mais livres, são capazes de expressar-se sem se verem pressas pelos convencionalismos sociais. Estas pessoas não tem medo de decepcionar os demais nem a mostra sua suposta “debilidade”, porque sabem que na realidade chorar não implica em nada disso.
As pessoas que choram são mais verdadeiras e não querem se ver maquiadas pelas expectativas sociais. Essa consciência as levam a serem mais livres e a levar uma vida segundo suas próprias regras. Estas pessoas são verdadeiros “ativistas” que lutam por uma sociedade mais saudável emocionalmente onde as pessoas não se veem obrigadas a esconder o que sentem.
O choro é uma das expressões mais íntimas dos nossos sentimentos. Quando choramos na frente de alguém, é como se estivéssemos desnudando nossa alma. Por isso, as lágrimas ajudam a criar um conexão muito especial, é como se conectássemos diretamente através do nosso “eu” mais profundo.
Quando uma outra pessoa “aceita” essa tristeza, sem tentar fugir dela ou nos brindar de falsas palavras de alento, simplesmente nos apoia e se mantém ao nosso lado, se cria uma conexão única. Na verdade, uma das funções das lágrimas é precisamente a de pedir ajuda, mesmo que seja de maneira indireta, mostrando nossa impotência, para que os demais se acerquem e nos conforte.
Portanto, o choro e a tristeza não devem ser percebidos como um sinal de debilidade, senão como um sinal de fortaleza interna e atenção plena. Não choramos porque sejamos débeis ou incapazes, senão porque estamos vivos e não nos envergonhamos de expressar o que sentimos.
Portanto, como dizia o poeta argentino Oliverio Girondo:
“Chorar a lágrima viva, chorar a choros…..Chorá-lo todo, mas chorá-lo bem.(…) Chorar de amor, de cansaço e de alegria”.
Imagem de capa: Photographee.eu/shutterstock
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