Ela nunca imaginou que um navio pudesse ser tão grande. Normalmente ela os via de longe enquanto mirava o horizonte na época do ano em que eles vinham para o Brasil. Eles eram apenas parte de uma paisagem sazonal com o qual ela se encontrava durante as férias quando fugia da cidade grande e ia ao encontro do mar. Mas agora ela estava lá, a poucos metros do seu casco infinito. Ela olhava para cima e tentava calcular a quantos andares toda aquela suntuosidade correspondia. Quantas sacadas de apartamentos ele possuía? Ela estava prestes a embarcar em um local que seria um portal que lhe apresentaria um mundo de sonhos e glamour que ela imaginava que nunca lhe seria acessível.
Às vezes a gente tem dessas e, por ver algo apenas nas telas de cinema ou como algo distante, acredita que nunca terá condições de pagar, que aquele é um mundo impossível e destinado apenas a uma classe de pessoas específica, aos escolhidos que nasceram com possibilidades infinitas. A vida, o trabalho, o amadurecimento e o próprio mercado, entretanto, mostram que algumas realidades podem mudar. Assim, hoje, ela sabe que, como as viagens de avião, as viagens de cruzeiros atendem pessoas das mais diversas classes sociais. É possível escolher um pacote cruzeiro que se pode pagar, controlar distâncias e locais diferentes para visitar, parcelar os pagamentos e tornar tudo aqui alcançável. Basta um pouquinho de planejamento.
O sonho dela trazia grande romantismo, ela sabia, pois ela faria um cruzeiro europa. Nele, ela sairia de São Paulo, onde morava, deixaria por uns dias os prédios o concreto e o cinza para trás. Embarcaria em Santos, cidade antiga e cheia de história. Seguiria até Recife, onde pretendia comer o famoso “Bolo de Rolo”- que dizem ter uma massa bem fininha- e, de lá, finalmente, faria uma travessia oceânica rumo a Espanha, onde ela conheceria a cidade que sempre sonhou: Barcelona! Ela já tinha separado os livros que pretendia ler durante a viagem, se informou dos shows e serviços oferecidos pela Costa Cruzeiros, que foi a empresa que mais atendeu ao que ela desejava. Ela também separou um maiô e dois biquinis, com os quais imaginava passar horas e horas a beira da piscina enquanto tomaria belos coquitéis coloridos. Se precisasse de mais, compraria no próprio navio. Depois da piscina, seguiria para o jantar no belo restaurante do navio. Tudo sem culpa. Qualquer coisa, se a tal culpa “pintasse”, ela sabia que o navio também tem academia. E, quem sabe, sentindo-se ousada poderia dançar por horas na boate. Ela não se aguentava de tanta alegria, até um casino de verdade ela conheceria. Seria muito interessante ver todas aquelas cores, bares, restaurantes, spa. E estava tudo ali, na frente dela, logo após a rampa que dava acesso ao mundo que ela tanto sonhou conhecer.
Mais alguns passos e ela estaria no navio. Mais alguns passos e ela estaria no nordeste brasileiro. Mais alguns passos e ela caminharia por Las Ramblas até alcançar a cidade velha de Barcelona. Lá ela não queria mapas. Lá ela pretendia se perder infinitas vezes até que se achasse como pessoa. Ela viveria sua experiência como um ser humano que foi capaz de se planejar e conseguir algo que quis muito. Ah, como ela merecia essa viagem! E estava tudo ali, apenas a alguns passos dela. Só mais alguns passos.
– Seja muito bem-vinda, senhora. A Costa Cruzeiros deseja uma excelente viajem!
Um sorriso nos lábios. E ela entrou.
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