Um pé na bunda pode te levar mais longe do que um tapinha nas costas

É muito interessante como entenderemos algumas coisas que acontecem conosco somente lá na frente, passado o tempo, quando pudermos analisar tudo a uma distância segura. Outras coisas não entenderemos nunca, pois a dor provocada e o vazio deixado jamais poderemos superar. Mesmo assim, nada como a sensação de entendimento e de sossego que sentimos ao percebermos que tudo ocorreu exatamente como deveria.

Uma das mais desagradáveis experiências por que passaremos será levarmos um fora de quem amamos, vermos partir alguém que acreditamos ser o amor das nossas vidas, alguém sem cuja presença achamos não sobreviver. Num primeiro momento, iremos nos desesperar, remoendo o que em nós fez com que expulsássemos aquela pessoa de nossa vida.

A culpa recairá com um peso tão grande sobre nossa alma alquebrada, que seremos incapazes de refletir sobre o que o outro também deixou de fazer, o quanto o outro apenas ficava por perto sem se doar, sem partilha, sem reciprocidade. Pois bem, muitas vezes, a culpa pelo término de um relacionamento é dos dois, pois ambos navegavam por mares revoltos, há tempos, e se faziam de cegos. E outra, o amor pode acabar, sim, simplesmente acaba, após acúmulo de vazios. Vida que segue.

Outra experiência bastante desesperadora vem a ser o desemprego, quando somos demitidos de um trabalho que já fazia parte de nosso cotidiano. De início, pensamos que o mundo acabou, que jamais seremos reempregados, que aquele era o melhor emprego do mundo. Esqueceremos o quanto aquele trabalho nos desgastava, o quanto nos tornava infelizes, o tanto de colegas de trabalho traíras que nos rodeavam.

Na verdade, a maioria das pessoas se torna melhor após sentir na pele dores intensas, após passar por experiências desesperadoras e doloridas. É como se o sofrimento nos esvaziasse os sentidos, para que, aos poucos, fôssemos nos preenchendo de esperança e de força para lutar. Após sofrer toda a devastação emocional que nos atropela, nós nos reerguemos, porque temos que continuar, que sobreviver, que voltar a trabalhar, voltar a amar, voltar a viver.

Por essa razão, embora não consigamos ficar inertes frente ao que de ruim nos acontece, termos a convicção de que o melhor ainda estará por vir nos ajudará a passar pelas noites escuras com uma ponta de esperança que fará muita diferença. Acreditar que merecemos o melhor não é ingenuidade, mas necessidade, para que os nãos nos esbofeteiem com menos força e não nos retirem o foco de luz que carregamos dentro de nós.

Imagem: Srijaroen, Shutterstock

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Que ler um livro sobre o assunto: “Quando um pé na bunda nos empurra para frente”, de Josie Conti. Adquira a versão impressa pela Sultana Produções ou a versão online pela Amazon







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.