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Um ponto de vista sobre o medo de altura

Eu tenho medo de altura.

Não chego nem perto de sacada do quarto andar em diante, não atravesso nenhuma passarela, sofro em escadas rolantes de shoppings, choro em elevador panorâmico e não visito mirantes. Mas um dia, um dia bem lá no passado, eu quis ser alpinista. Vai entender. Seria a cura para o meu medo ou a confirmação de maneira mais patética possível? Pendurada, a três metros do chão, chorando copiosamente. A melhor parte, na época, foi desistir.

Ainda ontem, falando com uma amiga sobre medo e preguiça, eu defendia o argumento de que o medo não paralisa, a preguiça sim. Mas esse era o meu ponto de vista ontem. Hoje, para falar sobre o medo de altura, precisei voltar atrás. Quantas passarelas me recusei a atravessar, quantos potes de ouro deixei de encontrar, pois o arco iris também é uma senhora passarela. Aquela vista maravilhosa do mirante, da varanda, da janela! Eu não tenho fotos com essas vistas ao fundo. Tenho algumas das vistas, muito embora através de grades e telas de proteção.

O fato é que esse medo me paralisa e, nisso tudo o que mais preocupa é: se eu acredito que é melhor sempre estar no chão, em terra firme e seca, de preferência, que outras certezas podem estar se alojando sem que eu tenha esperteza para perceber? Se não entro em um elevador panorâmico, como posso deixar as ideias voarem alto e me trazerem novas inspirações e novos pontos de vista? Será preguiça de combater esse monstro das alturas e trazê-lo para que fique com meus 1,62m e então possamos travar um embate justo e conclusivo?

Se só vejo a linha do horizonte por um ângulo, é justo que ela me pareça sempre a mesma linha, embora não seja sequer uma linha. Só para complicar um pouco mais, meu ponto de vista tem incontáveis pontos cegos, além das paralisias que o medo fincou.

Mas, assim como a vida, o que gente vê tem o colorido que já está presente em nós, penso que a melhor e mais prudente atitude a tomar seja a ofensiva, o enfrentamento, engolindo seco e partindo pra briga.

Começo com as escadas rolantes, passo para as varandas e sacadas e quem sabe, atravesso uma daquelas passarelas medonhas. Nas escadas vou pensar em elevar meus pensamentos e dar colorido a todos eles; nas varandas, vou buscar que ainda não pude ver e apreciar; por fim, na passarela, tentarei exorcizar todos os demônios que me seguram com força para que, enfim, eu atravesse livre e feliz, como era quando olhei para uma montanha e sonhei ser alpinista. Esse é o meu ponto de vista, hoje.

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

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Emilia Freire

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