Por Josie Conti
Trabalhar com o que realmente se acredita, além de um ato de amor, é um ato de coragem. A humanidade passa por um momento cada vez mais voltado para a desumanização das relações. O resultado disso é facilmente visível pela presença de números nunca antes vistos de transtornos mentais.
O profissional da psicologia, ciente da juventude de sua profissão, precisará cada vez mais ser capaz de dar grandes passos no que se refere a sua capacitação técnica, limitações pessoais e reais objetivos dentro de sua área de atuação.
Abaixo listo 8 tópicos que considero complexos quando saem da explanação teórica e são levados à pratica profissional. Convido-os para refletir comigo sobre eles.
1. Entender que, por mais conhecimento ou experiência que tenha acumulado, o ato de ouvir deve vir antes do falar.
Seja na área clínica, em recursos humanos, na universidade ou onde quer que o profissional trabalhe, ele só será capaz de fazer uma boa avaliação situacional, avaliação psicológica ou mesmo ensinar algo a alguém se, antes de classificar, avaliar uma situação, repassar regras ou executar protocolos, for capaz de ouvir e, a partir disso, compreender o verdadeiro contexto em que está inserido. Quem chega com teorias e diagnósticos pré-concebidos fica cego para o novo, e, ao invés de entender a realidade, passa seu tempo classificando algo ou alguém, segundo conceitos fixos e pouco flexíveis.
2. For capaz de acreditar, antes de julgar.
Quem trabalha na área clínica, por exemplo, sabe bem que um diagnóstico coerente só é feito após diversas sessões e, mesmo assim, ainda é passível de falha. Nesse processo, por mais que algumas características pareçam claras, um psicólogo profissionalmente maduro deve saber que sua avaliação deve passar pelo crivo da dúvida (é para esses momentos que usamos o termo hipótese diagnóstica). Durante esse processo de escuta é que as informações relevantes farão mais sentido e, aos poucos, trarão as peças históricas que permitirão uma avaliação rica e verdadeira.
3. Ah, a vaidade humana…
A maioria dos especialistas, seja de qual profissão for, corre o grande risco de sucumbir à vaidade e proteger seus erros e inseguranças por detrás de uma atitude arrogante. Outro dia, por exemplo, enviei um artigo para uma página grande do Facebook e o dono, psicólogo, não o aprovou, pois o título Pessoas como o meu filho conseguem manipular psicólogos com facilidade poderia soar agressivo aos colegas da área. E aí questiono, poderia soar agressivo a quem? No caso do texto supracitado a frase usada como título foi proveniente de uma mãe que, ao longo da vida, passou com seu filho por dezenas de psicólogos que não conseguiram avaliar corretamente o caso de sociopatia de seu filho.
4. Não definir o ser humano com quem trabalha através de um código de classificação de doenças.
Atitude comum na área de psiquiatria, esse ato desumaniza a pessoa atendida, classifica-a em um conjunto de sintomas previstos e afeta significativamente a possibilidade dos vínculos necessários durante a atividade profissional.
5. For capaz de separar sua vida pessoal de seu papel profissional.
Psicólogo no trabalho não é psicólogo de amigo ou de familiares. Misturar esses papeis tende a, ao contrário de ajudar, estremecer vínculos, pois, coloca o profissional em uma condição de falsa supremacia em relação aos seus. É claro que um conselho pode ser útil, uma vez que pode conter um saber técnico específico, mas, o melhor conselho mesmo, sempre será a orientação de que a pessoa querida que precise de um psicólogo, seja encaminhada para alguém fora de casa.
6. Perceber-se falho e capaz de errar.
Um dos meus autores preferidos, Malcom Gladwell, fala em um dos seus bestsellers “Outliers”, que um profissional só alcança a verdadeira capacidade de ser expert em um assunto após aproximadamente 10 mil horas de trabalho prático.
Ou seja, antes disso (ou mesmo depois, embora com menor margem de erro), o profissional terá que ter muita humildade, pois, certamente será seduzido por pessoas com sintomas histriônicos ou terá a certeza que alguém falava a verdade, e só depois descobrirá que estava lidando com um verdadeiro caso de sociopatia – isso só para citar dois exemplos clínicos. E, comento por experiência e reitero o exemplo da mãe do tópico anterior, infelizmente poucos profissionais da área de psicologia são capazes de um diagnóstico claro de sociopatia.
7. Ter consciência de que um tratamento eficaz sempre será mais bem-sucedido com a parceria de outros profissionais, em um trabalho interdisciplinar.
Sejam fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais ou mesmo médicos e medicações específicas, quando necessário. A pessoa que tem acesso a um tratamento multidisciplinar sempre será avaliada e estimulada de maneira mais completa. O trabalho de equipe, quando possível em clínicas e empresas, também ampliará a visão de todos os profissionais envolvidos.
8. Não se sentir ofendido por esse texto.
A pessoa precisa concordar com tudo o que foi escrito? Claro que não. Os exemplos citados são reflexões e creio que a essa lista ainda poderiam ser acrescentadas diversas situações.
E você, está pronto para ser um psicólogo profissionalmente maduro?