Poucas palavras bastam para sabermos que somos um tanto quanto universais. Paixão, amor, solidão, ilusão, fantasia e todos os reinos povoados desses sentimentos que nos atravessam por dentro e são sempre nossos, inteiros, com muita força e graça, sem dó nem piedade. É o infinito de todas essas composições que nos joga em qualquer palco, em busca do entendimento de nós mesmos, numa viagem ininterrupta, na contramão da coisa.
Existem culturas e culturas, memórias, hábitos, costumes e tudo o que se configure na alma do lugar, nas características essenciais. O que mais surpreende, como num filme de suspense é que, ao passo que temos mais acesso ao mundo, sua multiplicidade e cumplicidade, mostras de todo sadismo, despudor, liberdade, invenções, ainda parece que estamos vivendo como nossos pais, como diz a letra de Belchior: “Minha dor é perceber/ Que apesar de termos/ Feito tudo, tudo/ Tudo o que fizemos/ Nós ainda somos/ Os mesmos e vivemos/ Ainda somos/ Os mesmos e vivemos/ Ainda somos/ Os mesmos e vivemos/ Como os nossos pais…”.
A dor continua, tão insistente como quando começou, e o que mais se tinha medo “Ainda somos os mesmos, e vivemos como nosso pais” é tão real que não se pode nem mesmo virar a cara como num estalo de pudor, é o que somos. Talvez nem sejamos ainda tão liberais nos costumes e ainda guardemos um saudosismo pelas pessoas e lugares que conhecemos, mas não sabemos quando será a próxima viagem.
Ouvi de um amigo outro dia “somos transuniversais”. Mas o que é isso? Pensei, na verdade, o que ele quis dizer com aquela convicção que apareceu em seu rosto ao pronunciar tal frase. Ou ele teve muita certeza de si ou nenhuma noção do que disse, mas fluiu com um tirânico sentido. Como se pudéssemos driblar qualquer barreira de cultura, língua, etnia, condição social, religião.
Talvez nem sejamos muito universais ou transuniversais, mas sabemos a carga dos sentimentos que compartilhamos ou damos a alguém num ato de altruísmo; às vezes desejamos a recompensa, um pouco da retribuição para nos sentirmos conectados e seguros na teia que nos une como seres humanos, sem distinções.
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