Imagem de capa: frankie’s/shutterstock
“Teu medo muitas vezes termina quando tua mente se dá conta que é ela que cria este medo.” Alejandro Jodorowsky.
Nós vivemos em um mundo com um ritmo completamente alucinado, sempre com mais coisas para fazer do que a nossa real capacidade temporal permite. Somos cobrados sistematicamente para que consigamos dar conta – sem reclamar, é claro, – já que somos vistos tão somente como peças dentro de uma engrenagem que deve funcionar na máxima velocidade o tempo inteiro. Entretanto, ainda que isso por si só já seja problemático, o pior vem a seguir: dispomos de enorme energia em coisas que na maior parte do tempo sequer gostamos.
Obviamente, não há como fazer tudo que queremos o tempo inteiro. A vida adulta exige um certo pragmatismo para que seja possível o seu funcionamento. Todavia, há na contemporaneidade um excesso pragmático, o que torna a vida burocrática até mesmo nos pequenos detalhes. Inseridos nesse mundo de “máquinas”, nos sentimos extremamente cobrados, mesmo que inconscientemente, a nos adequarmos a esse modus operandi.
Sendo assim, toda vez que sentimos vontade de sair da “linha”, por algo que fala em nós, recebemos uma torrente de sentimentos pesados que nos bloqueiam e impedem que saiamos do lugar; reverberando em um exército de pessoas amedrontadas, inseguras, cheias de pressões na cabeça e, por conseguinte, paralisadas, automatizadas e tristes.
Eu sei que a insegurança é um traço da existência humana, afinal, somos finitos e confusos. No entanto, o que causa “estranheza” é o modo como há no sistema que vivemos toda uma cultura para explorar ao máximo as nossas inseguranças, a fim de que estejamos sempre em lugares previsíveis (físicos e do pensamento) e, portanto, estejamos sempre controlados.
Há total desestímulo a todos os que se colocam de modo diferente para o mundo, que buscam interpretá-lo de forma original, que procuram conhecê-lo, explorá-lo, esmiuçá-lo, principalmente, nas suas obviedades, que é o lugar em que se escondem as grandes belezas da vida.
Mas o medo é enorme, é gigante, toma conta do nosso ser, subordina-nos, cela-nos e cavalga em nós à base de chicotadas e esporas. E, assim, a maior parte dos sonhos, desejos, ambições, sequer saem do mundo das ideias, ou melhor, sequer chegam a florescer no mundo das ideias, porque existe o medo de falhar.
O habitual está no erro, nunca na possibilidade de dar certo, sobretudo, quando se trata de algo fora do “comum”, já que somos “livres”, desde que façamos as “escolhas” pré-determinadas por um grupo seleto de pessoas que brincam em seu teatro de marionetes.
Dessa forma, a nossa própria relação com o tempo se torna extremamente conturbada e problemática, porque nós acreditamos que estamos velhos demais para fazer alguma coisa que temos vontade, como trocar de faculdade ou fazer a faculdade que sempre sonhamos, iniciar um projeto convencional ou “não-convencional”, mudar de trabalho, iniciar um relacionamento ou novos relacionamentos (sentido amplo); enfim, sair de um lugar que está ruim, fazendo-nos mal, que não está nos trazendo felicidade e buscar algo que realmente queremos fazer, lugares que queremos estar, pôr em prática ideias que circulam em nossa cabeça e sonhos que bombeiam nosso coração.
Sentimo-nos velhos e, não raras vezes, incapazes de realizar aquilo que queremos. Contudo, ao contrário de permanecermos onde estamos e vivermos o presente, pensamos sempre no futuro, tomados pela ansiedade, mas paralisados pelo medo. Também pudera, é tanta pressão: de fora, de dentro, pressão para seguir os padrões, para se adequar, para correr, produzir, se anestesiar… realmente, estamos velhos demais para sonhar. Ou pelo menos, é assim que querem que pensemos e nós estamos cada vez mais acreditando nisso como a verdade última da nossa existência.
Desse modo, o nosso mundo extremamente desenvolvido, está completamente nebuloso, frio e gelado. Vivemos sem nos dar conta de que não basta viver, é preciso navegar, nos nossos mares, nos nossos sonhos, nas nossas loucuras, porque mais do que átomos, somos feitos de histórias, que precisam ser contadas para que continuem vivas.
O medo de falhar é terrível, confesso. A insegurança parece estar sempre à espreita, também sei. Entretanto, se a vida é um caminho que se faz ao caminhar, os sonhos são as asas que nos permitem sobrevoar as pedras que nele aparecem. Por mais que seja difícil, a escolha entre parar e voar é sempre nossa, já que: “Uma cabeça cheia de medos não tem espaço para sonhos”.
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