Uma conversa com meus botões
Imagem de capa:  Markevich Maria/Shutterstock

Conversando com os meus botões, a pauta foi sobre nossos comportamentos diários: a dificuldade em desenvolver e sustentar relacionamentos interpessoais em família, no trabalho e em todas as esferas que exigem o convívio com um outro ser humano.

A questão incômoda é a seguinte: Será que estamos compreendendo que, quanto mais inacessíveis e frios, maior é o nosso poder de respeitabilidade e maior é a proteção contra os perigos iminentes da vida?

Será que estamos valorizando o pensamento e a ação objetiva racional e, consequentemente, compreendendo que comportamentos como, impessoalidade, neutralidade e distanciamento é a melhor estratégia para vivermos no mundo atual?

Caso isso esteja realmente acontecendo, os modelos de referência para os nossos relacionamentos, talvez, tenham que ser outros e não mais os seres humanos. Quem sabe o Pico do Everest ou a Cordilheira dos Andes… Altos, belos, contudo inacessíveis.

As relvas verdes, os riachos, a goiabeira na beira da estrada, as primaveras debruçando-se nos muros de nossas casas, oferecendo-se generosas e gratuitamente, não ganharão mais nossa atenção e interesse , da mesma forma como a generosidade, a compaixão, a veracidade deixarão de ser atitudes acalentadas.

Mais difícil, ainda, seriam nossos olhos e nosso coração reportarem-se para a vida dos santos e de líderes comunitários, como Madre Teresa de Calcutá ou Martin Luther King Junior.
Seriam apenas belas histórias a serem lembradas, mas não condizentes com um momento histórico onde impera a segregação de grupos, abuso de poder, ganâncias e todo tipo de violência, física, moral, sexual e tantas outras mazelas que estamos vivendo.

José Saramago, foi coerente ao descrever a alienação do homem em relação a si mesmo e em relação ao outro, em seu livro, Ensaio sobre a cegueira, ao afirmar: “Cegos que, vendo, não veem”.
Desenvolveremos cada vez mais esse tipo de cegueira? Será que valerá a pena seguirmos nessa direção?

Somente lembrando de que lugares altos podem ser magníficos para serem apreciados, mas não são aconchegantes, nem permitem a nossa sobrevivência.







Psicóloga , escritora e avó apaixonada pelo seu neto e pela vida. Autora do livro "Varal de sonhos" e feliz demais com os novos horizontes literários que se abrem.