Uma visão psicanalítica dos sete pecados capitais

O filósofo e teólogo São Tomás de Aquino revisou a lista dos Sete Pecados Capitais, explicando a importância de conhecer os nossos instintos mais primitivos. A psicologia junguiana nos alertou que a raiz do mal desperta em nós emoções violentas, que reprimimos da nossa consciência. Entretanto, somos capazes de colocá-las à luz de teorias filosóficas e psicanalíticas, aplacando-as com o nosso autoconhecimento e conscientização.

IRA

As pessoas que se comportam de modo irado têm uma pulsão de morte, gerando hostilidades por onde passam. Esse desequilíbrio muda a expressão facial, que é tomada por “sangue nos olhos”. A ira esconde no inconsciente o medo de errar e de perder espaço. Utiliza-se da fúria para bancar privilégios, pois os indivíduos raivosos preferem agredir para defender-se dos seus “fantasmas”.

GULA

A gula pode estar ligada à fuga da fase oral mal resolvida. Esse vício exagerado por comida desequilibra a mente e o corpo, transforma as pessoas em animais esfomeados. A gula destrói a saúde, criando um círculo vicioso: comida em demasia para acalmar a ansiedade, culpando-se por isso, come-se cada vez mais.

PREGUIÇA

A preguiça tem um espírito indolente, tornando as pessoas empedernidas, que mostra falta autoconfiança ou talvez um traço distêmico. Faz com que elas desprezem as soluções dos problemas, não só pela apatia física, mas pelo desleixo de pensar e agir, deixando tudo para resolver depois.

LUXÚRIA

A luxúria é o mais sedutor dos vícios, uma vez que seus prazeres são oriundos da sexualidade hedonista, que liberta o conteúdo libidinoso do inconsciente, liberando com furor o desejo sexual. Como disse Freud: “Alguma renúncia é necessária à Civilização”. Aliás não espere isso da libidinagem, que age de preferência à noite, soltando os instintos até a mais completa animalidade.

AVAREZA

É uma máquina de injustiças, chefiada por especuladores e corruptos. O delírio de grandeza dessa gente é ver a miséria dos cidadãos, já que eles lucram com falência de todos. Há uma visão infantil, de que o “pão-durismo” do velhinho é porque ele poupa o seu dinheiro de baixo do colchão, mas o que vemos são gananciosos, que arruínam famílias, cidades e países.

INVEJA

A inveja por onde passa envenena tudo o que é bom. A cobiça é uma maldade cometida pelos olhos e funciona como um mecanismo de defesa. Uma de suas filhas é a fofoca, que gera infâmia ao seu redor. O alvo da inveja é, sobretudo, a felicidade alheia, por ser incapaz de ver o brilho das pessoas. É uma das emoções mais baixas, que corrompe o próprio invejoso e a sociedade.

SOBERBA

A soberba odeia transparência. Ela induz as pessoas a desrespeitar as leis. A empáfia traz um sintoma psicopatológico, no qual o sujeito acredita que é um “ente superior”, que se coloca como estivesse em cima de um pedestal de mármore. A arrogância possui uma relação umbilical com a falsidade, e tudo isso de maneira desmedida, que encontramos em vários setores da sociedade.

Portanto, os Sete Pecados Capitais continuam contemporâneos: superexpostos nas redes sociais, glamorizados pela grande mídia, usados como método pela elite política, etc. Em seguida são fabricados os fármacos para tentar curar esses males, que adoecem a alma e o corpo. No entanto, temos condições objetivas e subjetivas de aplacá-los através das virtudes humanas, que Platão e outros filósofos resumiram em quatro tipos: prudência, justiça, fortaleza e temperança.

Imagem de capa: Albina Tiplyashina/Shutterstock







Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista