Ele é Ramon Habitsenther, 21 anos. Como tantos outros jovens LGBTs no país, convive com a violência homofóbica física e psicológica desde a infância. Mas, na última quarta-feira, uma pessoa ou um grupo de pessoas tentou expor ele e sua família à humilhação pública. O jovem morador de Volta Redonda, no Sul Fluminense, teve o muro da casa pichado com a palavra ‘Bichona’.
Contudo, o tiro, destes que agem sempre na escuridão, saiu pela culatra. Ramon publicou uma resposta vitoriosa no Facebook, que conquistou o apoio de mais de 4 mil e quinhentas pessoas na rede social até a madrugada desta segunda-feira. E para os homofóbicos, fica a dica: ele não tem vergonha de ser quem é: gay e afeminado. “Sou uma bichona de marca maior!”.
Abaixo, na íntegra a resposta primorosa do estudante e, mais abaixo, a conversa do BLOG LGBT com ele:
“Nunca fui de me abalar com o comentário das pessoas em relação a minha orientação sexual, eu cresci ouvindo e vivendo coisas das piores espécies que qualquer ser humano pode ouvir por simplesmente ser quem eu era.
Minha memória mais antiga é de quando eu tinha por volta de 8 anos e queria jogar queimada com as garotas e não futebol com os meninos, só que nesse dia estava faltando um garoto para completar o time do futebol dos machos da escola. Eu nunca gostei de brincar de bola, carrinho ou soltar pipa. Inclusive quem levantava minhas pipas era minha amiguinha que morava na casa lado porque ela fazia isso muito melhor que eu. Mas voltando ao acontecido da escola, estava faltando um garoto para completar o time, eu continuei a jogar queimada e o time deles acabou ficando desfalcado e não conseguiram jogar a partida que queriam.
Segui meu dia normalmente como bom aluno que era, sem me importar muito com ameaças e piadinhas que ouvia a todo instante e de todos os lados.
O sinal para ir pra casa bate, como eu morava e moro na mesma rua da escola que estudava, caminhava sozinho até minha casa todos os dias. Mas nesse dia eu não fui sozinho, aquele grupo de garotos me acompanhou, chegando próximo a um terreno vazio que ficava logo depois da escola, fui empurrado para dentro dele e então, bom, eu apanhei nesse dia porque eu não quis participar do futebol, porque segundo eles eu era menininha, eu era “Ramona” e não merecia ir pra casa sem passar por aquilo.
Mas qual é? Eu só estava sendo eu mesmo, eu simplesmente não sabia ser de outro jeito, EU ESTAVA SENDO O QUE EU ERA. Minha mãe e meu pai sempre me criaram como um garoto, me davam bolas, carrinhos e skates, porém eu sempre me interessava mais pelas bonecas e sapatos da minha irmã, sempre foi natural isso pra mim. E por quê não seria? Por quê seria errado eu gostar daquilo que pra mim era muito mais legal? Bom, essas perguntas eu me fiz a vida inteira. Até não precisar mais fazê-las, até que eu me compreendi, me entendi, me aceitei, me amei e senti muito por aquelas pessoas sentirem tão pouco.
Eu nasci, cresci e vivo no mesmo bairro de sempre, dos insultos, das humilhações, da surra, das palavras ríspidas. Só que de tanto ouvi-las elas pararam de fazer sentido, não me afetam mais, não me magoam, simplesmente porque estou seguro de quem eu sou e do que eu acredito!
Quando a coisa é comigo, eu simplesmente ignoro e deixo pra lá, porém dessa vez foram além e expuseram toda minha família, família maravilhosa por sinal, que me respeita e me ama acima de qualquer coisa! Simplesmente sujaram, estragaram algo que meu pai trabalhou a vida inteira para conseguir. E pra que? Em nome de quem? Pra me ferir? Não conseguiram.
Sou uma bichona de marca maior e não me envergonho nem um pouco disso, nunca vou fingir ser algo que não sou para ser aceito e jamais vou parar de compartilhar e expor minhas idéias para que pessoas como essas pensem que “está tudo bem, só não pode ser gay perto de mim”. SIM, NÓS EXISTIMOS E PERSISTIMOS! Não vou me calar em relação a isso e a nada mais. E a essas pessoas eu dou todo amor que tem dentro de mim e que faltam nelas.
O AMOR É LIVRE!! “
A conversa com Ramon surpreende ao revelar um rapaz tranquilo, que não altera o tom de voz em nenhum momento, mesmo para falar das violências homofóbicas que vem sofrendo desde a infância. Seguro de si, inteligente e articulado, o estudante planeja um grande salto na vida: tornar-se drag queen. Com essa segurança demonstrada na entrevista, o BLOG LGBT aposta que ele vai arrasar!
BLOG LGBT: Qual foi a sua primeira reação ao ver o muro da casa da sua família pichado com uma ofensa contra você
Ramon: Eu não acreditei. Fiquei muito chocado. Ainda tive que ouvir do meu pai que a culpa era minha por me expor tanto. Meu pai aceita bem minha sexualidade, mas ele é muito heteronormativo. Acha que para ser gay não pode ser afeminado. Minha mãe brigou com ele quando ele disse que a culpa era minha.
BLOG LGBT: E o que te motivou a fazer a postagem no Facebook?
Ramon – A publicação foi um desabafo. Foram anos e anos de situações acumuladas. E a pichação foi a gota d’água para eu não ser mais tão passivo diante do que eu vinha passando. Eu queria que as pessoas do meu bairro, que sempre me provocaram, vissem que eu não estou nem aí. Não tem problema nenhum ser uma bichona, ser uma bichona é sensacional! As pessoas são diferentes e que bom que as pessoas são diferentes.
BLOG LGBT: Quando você ouviu de seu pai que “a culpa era sua”, deve ter doído, não?
Ramon: Minha relação com meu pai sempre foi delicada. Não por conta da minha orientação sexual, que ele aceita numa boa. Só que ele ainda é heteronormativo, no sentido de achar que um homem tem de ser um super-homem, não pode ser afeminado. Eu gosto de ser como eu sou. Tenho trejeitos e não me incomodo com isso. O que me chateou foi ele achar que eu preciso me esconder, foi achar que eu preciso ser uma pessoa que eu não sou para que as pessoas não sejam homofóbicas. Essa lógica é mesma que tenta justificar que a culpa de uma mulher ser estuprada é o fato de usar roupas curtas na rua. Isso me magoou.
BLOG LGBT: Passados alguns dias, que conclusão você tirou de tudo isso? Passar por esse episódio te deixou abalado ou, pelo contrário, mais forte?
Ramon: Eu não estou mais forte, nem abalado. Estou tranquilo como sempre estive. Foram anos e anos passando por provocações para eu me abalar com aquilo. As pessoas que fizeram a pichação são vazias ou até mesmo frustradas com elas mesmas e tentaram compensar essa frustração em uma pessoa que aparentemente para elas seria frágil. Porque para muitas pessoas uma pessoa afeminada é frágil. Eu posso ser frágil fisicamente. Se eu entrar numa luta corporal com alguém, eu vou perder com certeza. Mas mentalmente eu sou uma das pessoas mais fortes que eu mesmo conheço. Poucas coisas me tiram do sério. Para mim, foi apenas mais um dia. Está tudo sob controle.
BLOG LGBT: Na publicação no Facebook, você descreveu alguns dos casos de homofobia que vem enfrentando desde a infância. Mesmo assim, você parece ser uma pessoa bem tranquila. Por esta conversa, não parece se ruma pessoa amargurada, ou rancorosa, ou com raiva. De onde vem essa paz e segurança?
Ramon: Essa força que eu tenho, acho que vem muito por conta da minha mãe. Desde pequeno, quando alguém fazia algum comentário referente ao meu jeito, minha mãe sempre dizia: Ramon, não se importa com isso. Você é uma pessoa muito boa, uma pessoa iluminada. Sempre me mostrou que eu não estava errado em ser assim. Ela mesmo me ajudava a brincar com as bonecas da minha irmã. Ela sempre me mostrou que não errado. Tudo o que eu sofria na rua, em casa era amenizado. Acho que, por isso, o apoio da família seja tão importante para pessoas LGBTs. O que elas sofrem na rua pode ser amenizado dentro de casa. Eu tenho essa certeza que eu sou essa pessoa, segura, tranquila, por causa da minha mãe.
BLOG LGBT: E para a gente fechar. O que você quer para o seu futuro?
Ramon: Para o meu futuro eu quero dinheiro, eu quero homens.. brincadeira… eu quero ser uma drag queen bem legal. E que essas coisas que aconteceram comigo até hoje diminuam até o dia que não aconteça com mais ninguém.
Fonte indicada: O Dia
Matéria indicada pela página parceira Psique em Equilibrio
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