Dados da Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), calculam que cerca de 400 milhões de pessoas no mundo sofram de depressão. As estimativas feitas pela OMS de que, em 2030, esse mal seria responsável por 9,8% do total de anos de vida saudável perdidos para doenças, foi alcançado em 2010, duas décadas antes do previsto. Os números não mentem: a depressão transformou-se em um problema de saúde pública, por ser debilitante, tornando o indivíduo dependente da família, por roubar dele a energia para cuidar de si mesmo, e desacreditá-lo de seus talentos e capacidades.

Devido ao estigma associado à doença, muitos que sofrem de depressão não admitem que estão doentes, demoram a buscar ajuda ou nem mesmo o fazem, apesar de experimentarem grande sofrimento. Ainda há quem considere que depressão é frescura, passa com o tempo, basta a pessoa querer reagir. Essa crença está longe da realidade, pois, nos casos mais graves, a depressão pode levar ao suicídio: segundo relatório da OMS, a cada ano, mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida, e muitas delas padecem de depressão profunda. Muitas vezes confundida com tristeza normal ou característica de personalidade, como timidez, e da fase etária, a depressão com frequência demora a ser diagnosticada em jovens e crianças, ou o diagnóstico nem chega a ser feito, contribuindo para a piora do quadro e o aumento do sofrimento.

Tristeza é normal, faz parte da vida, tem prazo de validade, ou seja, dá e passa. Mas e a depressão, como perceber os sinais de alerta para o transtorno em si mesmo ou em alguém próximo? Se o que começou como aparente tristeza vai se prolongando por semanas e meses, na maior parte do dia, quase todos os dias, sem indicação de melhora ou de que a pessoa consegue reagir por si mesma, deve-se considerar a necessidade de procurar tratamento psicológico e, se for o caso, medicamentoso. Entre os sintomas da depressão estão tristeza persistente, pessimismo e baixa autoestima; perda de energia e de interesse por atividades antes consideradas prazerosas; ausência ou excesso de apetite, o que leva ao emagrecimento ou ao aumento de peso; sonolência constante ou insônia; fadiga; sensação de inutilidade, fracasso ou culpa; irritabilidade e impaciência; desesperança, desânimo, dificuldade de concentração e para tomar decisões; emotividade exacerbada, choro frequente; dores de cabeça e no corpo; falta de libido; uso abusivo de álcool e drogas; e pensamentos sobre morte (ideação suicida), como se ela fosse a solução para todos os problemas.

A depressão tem origem na predisposição genética e psicológica e por fatores ambientais e sociais, sendo que o estresse pode precipitar sua ocorrência. Esta é uma das explicações para o aumento crescente do número de casos, afinal enquanto os compromissos se avolumam o tempo parece cada vez mais escasso, obrigando a escolhas nem sempre satisfatórias. Quantas vezes o desejo permanece, mas a oportunidade foi perdida, o sonho adiado, o projeto repensado. Frustrações são naturais, mas é mau sinal quando a pressão se torna constante e dá sensação de perda de controle.

O final de ano é época de comemorações, e também de balanços: os sucessos, as conquistas, o crescimento pessoal e profissional. Porém, há as perdas, os fracassos, muitas vezes afastamentos, luto, doenças, desemprego, situações que dificultam partilhar os momentos festivos, sem esquecer as cobranças de ordem familiar, religiosa, profissional, pessoal, social. E o clima de alegria obrigatória nas reuniões compulsórias pode não contagiar quem teve um ano difícil.

É possível enfrentar esta maratona sem tanta angústia. Aceitar a realidade é o primeiro passo. Se a situação financeira é momentaneamente complicada, gaste apenas o que puder, não faça dívidas e use a imaginação. Permita-se experimentar sentimentos dolorosos, e peça ajuda a quem você confia, desabafar é importante. Desacelere, diminua os compromissos, divirta-se, faça exercícios físicos, passeie.  Não desconte na comida, para não ter problemas de saúde ou peso, nem afogue as mágoas na bebida, para não se sentir pior quando seu efeito passar.

Fundamental é encarar o passado com mais leveza e menos crítica. A retrospectiva não pode focar apenas os aspectos negativos, desconsiderando os positivos, característica dos depressivos. É preciso não esquecer que um ano que se inicia é uma convenção, a forma que os homens inventaram para estruturar a passagem do tempo. A vida recomeça todo dia. A esperança não depende de calendário.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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