Vanelli Doratioto

Velho Chico, a ideia de que “todo mundo sabe” e a empatia

Existem muitos textos falando de gentileza hoje em dia. Quase todos parecem dizer que a gentileza é a chave para que se abram as portas do coração. Eu concordo, ser gentil é sublime em um mundo de palavras gritadas ou automáticas. No entanto, quero falar aqui sobre a empatia, aquela qualidade linda que nos coloca no lugar do outro.

Independente desse outro ser conhecido ou não, o que sabemos pode mudar sua vida. E não é preciso que ministremos uma aula para isso, muitas vezes uma palavra pode orientar de forma a tornar a vida de alguém mais segura e melhor.

É comum ouvirmos a frase “todo mundo sabia” quando alguma fatalidade acontece, (como a ocorrida com o ator Domingos Montagner) no entanto é claro que a vítima não sabia do perigo que corria. Todos sabiam, menos ela. O pensamento recorrente nesses momentos, aquele que indica “que todo mundo sabia” parece caber muito bem em alguma desculpa, mas não é verdadeiro.

Eu não tenho condições de saber todas as imprevisibilidades que se anunciam em meu caminho. Nenhum de nós tem. Com cautela tentamos prever e fazer o nosso melhor. Mas mesmo assim podemos não saber que quando o mar se afasta da costa por quilômetros é provável que um tsunami esteja a caminho. Também podemos não saber que um material verde e luminescente, descartado a esmo, pode ser radioativo. Também podemos não prever em quais partes de um rio ou mar não podemos entrar se não existirem placas por perto. Mas, podemos ter a felicidade de encontrar em nosso caminho alguém que saiba aquilo que não sabemos.

No Brasil, em grande parte das ruas o carro tem preferencial, tendo o pedestre a orientação de atravessar na faixa, fazendo bom uso do farol, quando disponível. No entanto, na Europa é comum que os carros parem quando alguém deseja atravessar a rua. Muitos estrangeiros já foram atropelados em terras brasileiras por não saberem que aqui não é como lá e tantos outros se salvaram porque alguém felizmente os orientou antes que saltassem na frente de algum veículo. Essa parece ser uma informação corriqueira, de senso comum, mas não é.

Quando pudermos orientar alguém acerca de algo que pareça de domínio público, se a situação nos permitir, é importante que o façamos de forma empática. A vida precisa de respeito e carinho e se tivermos alguma chance de demonstrarmos carinho por ela, nem que para isso pareçamos loucos, devemos fazê-lo.

É preferível gritar “cuidado com o carro”, “essa área é imprópria para o mergulho”, “esse procedimento é perigoso”, “esse caminho não é o melhor” que lamentar a palavra silenciada.

As vidas salvas por um gesto empático não aparecem nos jornais, as perdidas sim. Façamos a diferença, orientemos quando possível, antes que o improvável se torne inevitável.

Ninguém tem obrigação de saber, mas o nosso dever como seres dotados de bons sentimentos é o de ensinar e orientar.

Diante da empatia, a vida sempre agradece.

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Vanelli Doratioto

Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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