Por Alan Lima
Boas relações são construídas em momentos de lazer. A diversão romântica é elemento das histórias de conquista. Quantos filmes chamam de encontro apenas os jantares a luz de velas, o trocar beijos e mãos no escurinho do cinema?
Nada disso é ruim, claro, quisera nós desfrutarmos de incontáveis noites regadas a entretenimento e carinho. E dizem, aqueles com a experiência de casamentos e namoros duradouros, que eventos assim são inversamente proporcionais ao tempo de convivência. Com o tempo, a rotina tudo esmaga.
Adélia Prado traz um outro panorama no poema Casamento, a relação entre o amor do casal e o trabalho. Inverta as posições. Seja ora a mulher, ora o homem. Coloque-se no lugar de cada um dos personagens e questione.
Como a forma de lidar com os deveres do cotidiano faz “Coisas prateadas espocarem”?
“Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.”
Poema Casamento, Adélia Prado.