Tomei um susto, esses dias, quando percebi que nunca tinha parado para apreciar, de fato, a beleza de um arco-íris. Isso me inquietou. Óbvio, já vi vários arco-íris, mas, em nenhum desses momentos, eu estava ciente da raridade, beleza e simbologia de tal fenômeno.
Sabe aquela impressão que temos, às vezes, de que não éramos maduros os suficiente para dar valor a certas pessoas, eventos e privilégios do passado? De que não soubemos aproveitar certas épocas, de que não tínhamos noção da grandeza de alguns detalhes, de que não tínhamos atentando para a beleza de lugares em que estivemos? É isso que sinto com relação aos arco-íris.
Como pude, eu, deixar passar em branco um arco colorido – meio transparente – abraçando a cidade, perpassando a estrada, presenteando a vista da praia? Como pude não me maravilhar com aquele caminho curvado (multicolorido) que atravessa o céu depois da chuva? O pote de ouro que fica na ponta do arco-íris deve estar entristecido. Ninguém mais o procura, nem sonha com ele. Alguns nem mesmo sabem de sua existência. A gente se deixa esquecer os arco-íris da vida. Esquece-se do pote de ouro que fica em seu fim. Um absurdo, não é? Um pecado sem precedentes.
Isso soará meio louco, mas tenho andado na rua, literalmente, com a cabeça nas nuvens. Não tiro os olhos do céu, na esperança de dar de cara com um arco-íris e tirar esse peso de minhas costas. Poderia chamar essa obsessão de um desespero filopoético, talvez, mas penso que toda essa situação é um lembrete do quanto deixamos passar diante de nossos olhos tanta beleza, sem que prestemos atenção. É preciso se policiar, aguçar os sentidos, entende?
A vida fica mais bonita quando aprendemos a apreciar os detalhes (até os mais simples), os fenômenos, os lugares, as situações cotidianas, as pessoas. Pergunto-me o quanto perdi da vida enquanto estava distraída demais. Ou seria me concentrado demais naquilo que não importa verdadeiramente?
A gente se distrai, concentra-se demais e perde os arco-íris da vida. Mal sabemos nós que um dos potinhos de ouro da existência é a habilidade de saber apreciar o que está ao nosso alcance. De saber valorizar o que temos por perto, de se encantar com as cores que estão em nosso campo de visão, de ver a beleza que está oculta pelo costume e pela rotina.
Enfim, o que importa é que, a partir de agora, eu me esforçarei mais para não deixar passar em branco os próximos arco-íris que comigo cruzarem, sejam eles o que forem. E te desafio a fazer o mesmo.
Imagem de capa: Dmytro Balkhovitin/shutterstock
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