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Vínculos

Guarda compartilhada, alienação parental, abandono afetivo.
All we need is love

Grande parte das separações deixa cicatrizes, por mais elaboradas que sejam as partes envolvidas há sempre um sentimento de rejeição, de falha, ainda que não seja verdade.

É preciso distinguir a verdade do real. Real é tudo o que acontece, e distingue-se da verdade. A verdade talvez não possa durar, mas pode permanecer. Por exemplo, o fato de ter recebido flores, de viver, de amar alguém, é real. Quando as flores murcharem, quando eu morrer, quando eu deixar de amar, já não será real. Mas continuará sendo verdade que tudo isto existiu. Portanto há que se compreender que uma separação não se aproxima de um sentimento menor, mas sim da constatação da real condição da vida e de sua impermanência, bem como da constatação da verdade de um amor vivido.

Quando o luto pelo fim do relacionamento não é vivenciado de forma adequada e respeitosa, tem início um processo amargo de descrédito do ex-companheiro e, infelizmente, muitas vezes o filho torna-se o projétil da arma.Tornam-se instrumentos de um agressividade direcionada. O filho é levado a afastar-se de quem o ama, em uma destruição lenta e perniciosa do vínculo afetivo.

A dissolução dos vínculos afetivos e o rompimento da vida conjugal dos pais não deve comprometer a continuidade dos vínculos parentais. É imprescindível manter os laços de afetividade, diminuindo os efeitos que a separação acarreta nos filhos.

A guarda compartilhada, que não deve ser confundida com a convivência alternada, pode demonstrar aos filhos, na prática, a máxima: “seu pai/mãe separou-se de mim não de você.” A guarda compartilhada elimina a figura da visitação. Pai ou mãe não é e não pode ser visita. E mais, o direito de visita não encontra limites entre pais e filhos.

A criança e o adolescente merecem conviver com todos os que fazem parte de sua história. O menor precisa ser enriquecido de referências e experiências. Padrinhos, tios, irmãos, avós não podem desaparecer quando um casamento acaba. Uma relação afetiva verdadeira não termina porque foi modificada. Laços afetivos não podem e não devem ser desatados apenas porque algumas coisas mudaram. Separação não é sinônimo de abandono afetivo; abandono afetivo é desprezo e desprezo é sempre injusto.

” Nossa vida é tão vã, que não é senão um reflexo de nossa memória”, dizia Chateaubriand.

Que nossa vaidade seja menor que nosso amor. Que nosso julgamento seja menor que nossa compreensão. Que nosso amor seja maior que nossas mágoas. Que nossos filhos possam ter todas as memórias que lhes são de direito.

Imagem de capa: Where the Wild Things Are

Luciana Chardelli

Luciana Chardelli é carioca, jornalista, escritora e advogada pós graduação em Direito Penal e Processual Penal. É autora do livro "Penso, logo insisto. Um desencontro." Escreve também na Revista Obvious.

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