Eu me sinto imensamente atraído pelos ensinamentos orientais, principalmente os ligados ao Budismo. O cerne dos ensinamentos budistas está relacionado com o sofrimento e que através do famoso “caminho óctuplo”, proposto por Gautama Buda, podemos transcendê-lo e atingirmos a iluminação.
Infelizmente vivemos num país no qual as pessoas, em sua maioria, não dão muita bola para esses ensinamentos. Por isso intitulei esse texto dizendo que vivemos em uma cultura masoquista. É comum ouvirmos as pessoas dizerem frases como: “o sofrimento é necessário”, “o sofrimento nos faz acordar para a vida”, “vencer sem luta é triunfar sem glória” etc etc.
Isso está entranhado no inconsciente coletivo dos brasileiros de um jeito tal que, se alguém tem uma vida simples, feliz, equilibrada e sem conflitos, quase todos olham torto, como se essa pessoa fosse uma alienígena. Percebe que maluco? O normal é ter uma vida sofrida, amarga, cheia de lutas e cheia de leões para matar diariamente…
Venho nesse texto lhe levar a refletir que não precisa ser assim. E para que você entenda isso ainda melhor, quero compartilhar as lindas palavras do grande filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Yves Leloup, extraídas do seu belo livro “Amar… apesar de tudo”, que falam sobre esse masoquismo humano.
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No homem, o conhecimento emerge através da dor. Na maioria das vezes, perdemos a capacidade de conhecer nos momentos de alegria; não sentimos nossos limites a não ser no decorrer de experiências dolorosas. Eis o que é evidente, por exemplo, na área da saúde: só sinto meu estômago quando tenho cólicas! Sem isso, nem sei que tenho um estômago… É uma pena. Do mesmo modo que podemos sentir nosso estômago sem ter cólicas, podemos sentir nossa alma sem que esta nos machuque, sem que ela esteja triste.
Mas como sentir o que não é sentido?… Perdemos a sensorialidade, a sensualidade do que não é sentido. Com efeito, no masoquismo, temos necessidade de coisas que nos provoquem um sofrimento cada vez mais intenso. Do mesmo modo que, para sentirmos o sabor dos alimentos, temos necessidade de iguarias cada vez mais condimentadas… porque perdemos o sabor do simples, o sabor da água; perdemos a sensibilidade que permite sentir que na água, existem também grandes diferenças de qualidade.
Jean-Yves Leloup
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Nós nos afastamos do simples. A evolução tecnológica tem nos tornado cada vez mais complexos, e talvez por conta disso, até um tanto paranoicos.
Nesse trecho do livro, na página seguinte, ele inclusive fala do prazer estranho que muitos sentem ao praticar esportes radicais, esportes que põem a vida à prova a todo instante. Ele explica que boa parte delas perdeu o encanto por extrair beleza das coisas mais simples.
Ainda não estudei esse assunto com profundidade, mas percebo principalmente vendo filmes e séries, que as pessoas apaixonadas por esportes radicais, quase sempre passam por grandes conflitos, principalmente familiares, e buscam a explosão de adrenalina para encobrir a dor e por breves instantes não pensarem nos problemas pessoais.
Inclusive, lendo os livros do místico Osho, em vários trechos ele explica que uma pessoa dirigindo um carro à 150 km/h não consegue pensar racionalmente em nada. Toda sua energia e atenção estão na estrada, porque qualquer deslize pode ser fatal, a vida está em jogo.
Isso é masoquismo, mas ele vem disfarçado de outros nomes como aventura ou adrenalina.
É possível sair dessa corrida dos ratos na qual quase todos se encontram. Existem muitos caminhos, mas é claro que sugiro acima de tudo o que mais ensino por aqui, o CAMINHO DO MEIO, ou seja, não queira uma vida morna, na qual você não experimenta nada de novo, nada que desperte suas emoções e lhe faça vibrar, mas também não seja extremista ao ponto de desafiar sua vida por meros instantes de prazer.
Só deixando claro que de forma alguma sou contra quem pratica esportes radicias. Eles são muito interessantes, mas precisam ser feitos como toda segurança, utilizando os equipamentos de proteção necessários entende? Dessa forma está tudo ok! Estou falando das pessoas que praticam de forma extremada, desafiando a morte…
Agindo com esse equilíbrio, você vai estar automaticamente se diferenciando da massa e, consequentemente, deixando de ser um masoquista existencial.
Reflita com carinho sobre tudo isso e aprenda que o caminho para não ser um masoquista é resgatar a simplicidade e o encantamento pelas pequenas coisas da vida…
Imagem de capa: Eakachai Leesin/shutterstock
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