Ana Macarini

Viver com pena de si mesmo só serve para torná-lo fraco e afastar as pessoas

Uma coisa é reconhecermos que não somos nenhum super herói ou super heroína; entender que há coisas que escapam do nosso controle ou que temporariamente não têm solução.

Outra coisa é viver choramingando, penalizado da própria condição ou dificuldade e não procurar sair da posição de vítima.

Ninguém aguenta conviver por muito tempo com um eterno coitadinho, ou coitadinha. Porque há pessoas que são refratárias a qualquer tentativa de ajuda ou sugestão que dependam do seu esforço ou iniciativa para sair da situação em que se encontra.

Vivem esperando por alguém que as salve de sua própria falta de coragem para assumir riscos, compromissos ou situações de evolução. Acreditam que foram escolhidas por Deus, ou sabe-se lá por quem mais, para padecerem isoladas e sozinhas nesta vida tão difícil.

Muitas vezes são pessoas que tiveram pouca atenção dos pais na infância, cresceram com aquele buraco afetivo, um real estrago de abandono familiar. É fato, isso existe. E se essas pessoa não tiverem oportunidade de tratar essas questões emocionais, de forma terapêutica, podem arrastar-se ao longo da vida, aprisionadas num padrão de comportamento que as impedirá de estabelecerem laços com outras pessoas.

Também é fato que não há acesso à terapia para todos. Mas, também é certo que quando a pessoa quer mesmo dar um outro rumo para sua vida, ela acaba arranjando um jeito: procura um serviço público, alguma entidade que organize atendimentos por preços simbólicos, um grupo de apoio, ou, até mesmo, um aconselhamento religioso.

E é bom que se esclareça: esse texto não trata de questões relativas a indivíduos acometidos por doenças psíquicas e transtornos afetivos; neste caso, não há intencionalidade no comportamento, não há vontade de chamar a atenção. Este texto trata daqueles que usam o lugar de vítima para manipular o afeto alheio.

E essa postura de pobre coitado não atinge preferencialmente os desafortunados. Muito ao contrário; há indivíduos que, apesar das inúmeras dificuldades emocionais, acabam se desenvolvendo nas outras áreas da vida e sendo bem-sucedidas. São pessoas que receberam educação formal, algumas até em níveis superiores; estabeleceram-se profissionalmente; alcançaram meios de se sustentar. E, mesmo assim, vivem estacionadas, escondem-se por trás de desculpas padronizadas como “não ter sorte com amizades e amores” ou “não ser atraente”, ou “não ter nenhuma habilidade social”.

Aquele que se acomoda de forma obstinada ao papel de vítima, pode desenvolver uma espécie de relacionamento sério com esse padrão de comportamento. Não raras vezes até começam relações amorosas ou de amizade, mas não as conseguem manter.

A ansiedade por sentir-se amado e aceito, faz com que essas pessoas de auto estima rebaixada, reajam a qualquer aproximação qual uma esponja. Esgotam os parceiros afetivos com lamúrias de menos valia e intermináveis queixas de falta de atenção.

É preciso estar disposto a afetos que libertam para que se estabeleça um processo de cura para essa carência afetiva que, em última análise, ninguém dará conta de suprir. Viver com pena de si mesmo só vai torná-lo fraco e afastar as pessoas.

Se você se reconheceu neste texto, pode acreditar, nem tudo está perdido! Em verdade, tudo pode ser encontrado, inclusive um lugar iluminado para você nesse mundo. O primeiro passo você até já deu, mesmo que não tenha percebido.

Faça algo de extraordinário por você mesmo: redescubra o que há de bonito aí dentro e compartilhe com alguém, ou “alguéns”… Quem sabe onde é que se encontra a felicidade, não é mesmo? Mas… Para que a felicidade seja encontrada, antes de tudo, a gente precisa querer procurar por ela.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Encontros e Desencontros”

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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