Revirei-me.
Busquei no fundo a solução pro caos da superfície.
Umas vezes achei.
Outras, me perdi mais.
Desisisti.
Depois voltei.
Olhei no centro do olhar da criança pra poder encontrar a cura pro sofrimento de não saber.
Vi, olhei, contemplei, enxerguei, compreendi.
Viver é perigoso.
Não viver é muito mais.
Acolhi no meu peito a tristeza incompreensível.
Dei colo.
Fui colo.
Abracei.
Sigo tentando aprender a ser colo pra mim.
Pois não sei.
Meus braços parecem insuficientes para me caber dentro.
Sobre dor.
Sobra medo.
Sobra pergunta.
Sobra abandono.
Sobra.
E o exagero daquilo que sobra me põe e de frente com o aquilo que me falta.
Inominável.
Desconheço.
Acordei sorrindo tentando prender nas malhas da memória o sonho bom.
Acordei dolorida, os músculos retesados…
Tentando decidir se foge ou se esconde do sonho ruim.
Saí da cama sonhando com a hora de voltar.
Voltei pra cama tentando afagar a dormência da alma que oscila entre a letargia do corpo e o rodopio infinito da ansiedade.
Deu certo.
Depois não deu mais.
Fiz um esforço tremendo pra tentar aquietar a mente.
Inspira.
Expira.
Olhos fechados.
Coração aberto.
Fui pedra.
Fui vidraça quebrada.
Fui criança na janela espiando a chuva.
Fui lagarto na areia espriguiçando ao sol.
Fui tenda.
Telhado.
Casa.
Buraco.
Fui chão.
Fui pavor.
Fui coragem.
Fui amor.
Sou essa semente de vida embrionária à espera de um calor e de uma umidade que me rompa.
Permaneço viva.
Mesmo depois de ter morrido tantas vezes.
Revivo em mim as esperanças esquecidas.
Perdoo as dores sofridas.
Entendi que a cada vez que meus pés tocam o chão de manhã.
Presencio um novo milagre.
Este pode ser o dia.
Aquele dia enfim.
Em que a minha alma perdida.
Finalmente resolva.
Voltar pra mim.