A vida é imprevisível. Às vezes é curta, às vezes longa. A vida, às vezes é economicamente próspera, às vezes economicamente miserável. A vida, às vezes encantadora, às vezes também se mostra caótica.
Nessa nossa vida, que poderia ser vista como uma enorme sequência de fugas e evitações daquilo que nos traz sofrimento, nos empenhamos em manter por perto aquilo que nos faz bem e que nos move em direção àquilo que sonhamos (lembrando que, na imensidão das vezes, passamos muito mais tempo fugindo da dor do que buscando a felicidade).
Penso que a vida, basicamente, ocorre dentro de dois grandes formatos:
Há a vida em que existem picos de empolgação e felicidade. Nessa vida você amadurecerá e aprenderá muitas coisas importantes sobre você, sobre os outros e sobre o mundo. Existe, entretanto, um custo extremamente elevado em viver dessa forma: você precisará estar disposto a perder tudo o que tem (e, inevitavelmente, perderá) repetidas vezes.
Essa vida, que é aquela que de fato gera experiências que nos humanizam, custa extremamente caro porque ela é construída sobre um tijolo de realidade e mil tijolos de fantasias, idealizações e sonhos. Por mais que o destino seja muito gentil, raramente tal construção permanece em pé – e aí mora o problema. A cada vez que o seu mundo desmorona você tem a impressão de que perdeu mais do que investiu. Junto com o fim de um relacionamento, por exemplo, pode morrer, temporariamente ou não, a capacidade de confiar afetivamente em outras pessoas, a capacidade de amar e, não tão menos frequente, o desejo de viver. Junto com o fim de um ciclo da carreira pode morrer a sua autoconfiança, a sua força de se aprimorar e o seu ânimo de seguir em frente. Em todo desmoronamento perde-se muito, entretanto, a vida com significado tem como matéria prima momentos de intensa alegria e dor.
Por outro lado, há outra forma de viver. Esta, por sua vez, é comparável a uma aplicação financeira na poupança. Você praticamente não corre riscos, entretanto, passa por poucas experiências engrandecedoras e, somente muito casualmente, será bem recompensado e sentirá felicidade em estar vivo. Há menos sofrimento, mas, por outro lado, existe um infinito vazio. A experiência da vida torna-se altamente tediosa e, de forma nem sempre óbvia, a pessoa passa toda a sua existência à espera (seja de um milagre: que coisas magníficas ocorram sem que haja exposição ao risco de sofrer, ou seja da própria morte).
Ninguém passa todo o tempo em apenas um dos referidos formatos. O tédio prolongado e grandes decepções casualmente nos fazem arriscar outras rotas, em busca de outros desfechos.
Enfim, assim é a vida, um mar de sentimentos e necessidades que oscila e nos tira do conforto para mostrar que, por mais estranho que pareça, a dor também é caminho.
Ah, a vida…
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