Por Maria Cristina Ramos Brito
Assertividade é definida como expressão adequada de emoções ou sentimentos, com o objetivo de reivindicar os próprios direitos, respeitando os direitos alheios, ou seja, lutar pelo que se quer e merece com segurança e confiança, sem angústia ou constrangimento. É o oposto do ditado “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, defendido pela necessidade de sobrevivência, mas que mascara outras intenções. Este é um comportamento agressivo e desrespeitoso, quando se invade o espaço do outro ou se passa por cima de alguém para se obter o que quer.
Há também o comportamento não-assertivo ou passivo, manifestado pela incapacidade de dizer não, de afirmar necessidades e desejos, mesmo que isto acarrete prejuízo e sofrimento. Na raiz psicológica, crenças de inferioridade, não merecimento, insegurança, fraqueza, justificadas por cuidado (fulano precisa de mim), medo (se não aceitar, posso ser abandonado), culpa (falhei ou não faço o suficiente), autoilusão (é uma fase, vai passar), e tantas desculpas quanto a mente possa criar.
A assertividade é tão importante que merece pesquisas acadêmicas. Estudos são feitos e protocolos, criados para auxiliar as pessoas a desenvolver autoestima e habilidades sociais para lidar no dia a dia. Tudo isto comprova a existência de códigos sociais e a importância de saber se expressar, em palavras e atitudes, nas relações pessoais e profissionais. Popularmente, como diria Chacrinha, “quem não se comunica, se trumbica”. E comunicação não se trata apenas de falar; é preciso saber como fazê-lo. Cabe destacar que ser assertivo não assegura sucesso ou felicidade em todas as ocasiões, não é solução milagrosa porque seus desejos e necessidades nem sempre combinarão com os das pessoas ou se ajustarão a todas as situações. Então para o que serve a assertividade? Ela prepara o indivíduo para enfrentar situações difíceis e estressantes, fazer escolhas, perseverar e se valorizar. Com o exercício do autocontrole e da diminuição da ansiedade nas relações interpessoais, a pessoa adquire objetividade e projeta uma imagem positiva de si mesmo, ganhando o respeito dos demais.
Entre outras coisas, a assertividade promove o direito de mudar de opinião; de assumir responsabilidades, decisões e atitudes contrárias a outras pessoas, desde que não firam o direito de alguém; de colocar limites ou romper relacionamentos danosos ou inapropriados; de cometer erros e ser responsável por eles, e não se responsabilizar por erros alheios; e de fazer apenas o que está dentro de suas possibilidades. Tudo isto visando melhor qualidade de vida e uma convivência mais humana e justa. Ser assertivo não é ignorar as necessidades e sentimentos dos outros. É simplesmente não desconsiderar as próprias necessidades e sentimentos. Não importa como foram as experiências na infância e na adolescência, o passado não pode ser mudado, apenas compreendido. Fazer novas escolhas no presente representa a possibilidade de uma vida mais plena e equilibrada. E, para isto, é preciso ser assertivo.
Interessante notar que é a dificuldade de o sujeito ser assertivo que o leva a procurar terapia. Atritos e impasses interpessoais, problemas nas relações com pais, cônjuges, filhos, chefes e colegas de trabalho são exaustivamente expostos nos consultórios. Queixas de solidão, mal-entendidos, confusão e vazio repetem-se. Depressão, ansiedade, fobia social e abuso de substâncias são exemplos de problemas que podem ter uma parte de suas origens em déficits de assertividade e de habilidades sociais. Faz-se necessário dar voz às próprias emoções, para reconhecer o que pertence a si e o que é reflexo do(s) outro(s), encarar seus medos e adquirir uma visão mais positiva de si mesmo e da vida.
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