A felicidade é negligenciada.
Não, não estou falando que as pessoas não queiram ser felizes, é óbvio que elas querem. Todo mundo quer ser feliz, mas ninguém mais sabe COMO fazer isso.
A gente confunde felicidade com dinheiro, com carro do ano, com apartamento no Jardins. A gente acha que vai ser mais feliz com mais seguidores nas redes sociais, com mais gente elogiando a nossa foto nova, com um emprego que fascine as pessoas. A gente acha que vai ser mais feliz porque foi contratado pelo Itaú, enquanto os nossos conhecidos trabalham em empresas menores.
A gente se sente superior, e acha que isso é ser feliz.
Eu vejo toda hora gente falando de como a felicidade é sobre ser e não sobre ter, mas vejo pouquíssimas pessoas realmente vivendo isso.
Eu passei um mês no interior da Índia entrevistando refugiados tibetanos. Pessoas que perderam toda a sua família, pessoas que foram presas e torturadas, pessoas que perderam membros do corpo atravessando a fria fronteira do Tibete a pé. E eu te digo com toda a certeza do mundo: essas pessoas são infinitamente mais felizes do que as que eu convivo diariamente em São Paulo.
Elas são mais felizes porque elas são mais simples. Felicidade é sobre simplicidade.
Não estou dizendo que – necessariamente – quanto mais objetos materiais você tiver, menos feliz você vai ser; não é isso.
Mas eu acredito que, quanto mais objetos materiais você PRECISA ter, mais isso mostra quem você é.
Todo excesso esconde uma falta.
Muitos querem se sentir importantes, poucos querem realmente fazer algo importante.
Muitos querem ser respeitados, poucos querem dar respeito.
Muitos querem ser olhados, pouquíssimos olham pra si mesmos.
Muitos querem criticar, poucos fazem questão de elogiar.
Muitos querem ser ajudados, poucos querem ajudar.
É isso, ta aí algo que ninguém quer: ajudar.
Dalai-lama falou certa vez que “Procurar a felicidade e ficar indiferente ao sofrimento dos outros é um erro trágico”, e eu não poderia concordar mais. Quando você ajuda alguém, você não se sente bem? Ajudar as pessoas faz bem não só pra quem está sendo ajudado, como pra quem está ajudando. Mas, mesmo sabendo disso, quantas pessoas você conhece que realmente fazem questão de ajudar? Quantas pessoas você conhece que fazem trabalho voluntário? Que doam seus pertences? Que levantam a bunda do sofá pra fazer algo por alguém?
Eu, sinceramente, conheço pouquíssimas.
A gente está sempre muito centrado no EU. As pessoas são extremamente individualistas, egoístas; estão sempre pensando nelas mesmas.
Como você quer ser feliz quando não faz a mínima questão de causar felicidade em outros?
Acho que já está na hora de entendermos que a felicidade não depende de condições externas, e sim de condições internas; e que não adianta de nada saber disso mas não colocar em prática.
Se você é uma pessoa feliz quando está viajando e se divertindo com os amigos mas se sente depressivo quando está no escritório trabalhando, tenho uma coisa pra te dizer: você não é genuinamente feliz.
A gente vive numa sociedade que não dá a devida importância à saúde mental quanto ela dá ao sucesso financeiro, ou ao status.
Sabe o que os refugiados tibetanos fazem, além de serem pessoas simples? Eles meditam.
Já foi comprovado – por estudos ocidentais – que a meditação altera fatores químicos no cérebro que deixam as pessoas mais felizes. Mas ninguém medita, ninguém exercita o cérebro, ninguém faz terapia, ninguém nem lê.
(A gente exercita o corpo – mas na grande maioria das vezes por uma questão estética e não de saúde. Ta aí de novo: o ter, e não o ser).
Nossa saúde mental é deixada de lado o tempo inteiro. Não é a toa que a gente é a geração com maior número de depressivos da história, com maior número de gente com crises de ansiedade, com maior número de suicídios. Não é a toa que as pessoas se matam em brigas de trânsito. Não é a toa que jogos como A Baleia Azul existam – e façam sucesso.
A gente não É, a gente só TEM. E esse é o nosso maior problema.
Todas as imagens: acervo pessoal da autora
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