Fui uma criança que se achava feia. Uma adolescente que se sentia inadequada. E agora, mais madura, tenho me esforçado para me ver com olhos generosos, que enxergam mais beleza e adequação do que eu poderia atribuir a mim mesma.
É difícil nos assumirmos por completo. E nessa incompletude, damos mais vazão aos defeitos do que às qualidades.
Você não é o cabelo escorrido que fica oleoso antes do fim do dia ou os cachos despenteados que só ganham contornos com uma porção de creme melado. Você é mais que as estrias que fizeram morada em suas coxas, e maior que as dobras que insistem em habitar sua cintura. Você é melhor que as unhas quebradiças e as espinhas na pós adolescência. Você é maior que o pescoço flácido e as rugas desproporcionais que surgiram no último ano. Você não é o pé chato, cheio de calos e joanete, e muito menos a curvatura acentuada na sua coluna.
A beleza tem espaço dentro de nós tanto quanto o desencanto. E mesmo que haja um dia ou outro em que nossos espelhos revelam menos do que gostaríamos, não são eles os donos da verdade do que somos de fato, pois não estão lá quando nos apaixonamos, quando estamos em um momento de oração, quando deixamos as lágrimas virem à tona num momento de pura emoção. Eles não estão lá quando você sorri espontaneamente ou faz um carinho verdadeiro em alguém especial. Não estão lá quando você se entristece, ou fica com raiva por causa de uma injustiça qualquer.
Eu te proponho acariciar-se ao invés de criticar-se. Te proponho olhar-se com os mesmos olhos amorosos da pessoa que te ama e só por um instante deixar de se lamentar para dar espaço para se elogiar. Eu te proponho sair um pouco de seus espaços e imaginar estar vendo a si mesmo de fora. Que você encontre beleza no momento em que está de pijama de algodão e cara limpa, que se admire sob a luz do dia quando o sol fizer brilhar o seu cabelo, e que se alegre ao perceber seu perfil num momento de absoluta concentração. Te proponho olhar-se de uma maneira mais gentil, sendo tolerante com os defeitinhos que imagina ter. Que você tolere o fio de cabelo fora do lugar, a gordurinha na barriga querendo saltar, o ângulo do nariz saliente demais, o vinco em torno dos lábios que não te deixa em paz, os fios brancos surgindo do nada, as marcas de uma vida apaixonada.
Que você se presenteie com amorosidade, permitindo ser visto como os outros te enxergam quando recebem de você o melhor que você pode ser. Que você perceba que merece o mesmo tipo de amor que irradia, e com isso passe a irradiar o melhor que puder.
Eu te proponho ser mais gentil com a alma que habita o seu corpo, elogiando seu olhar, agradando seu paladar, acreditando que é belo e digno de se amar.
Que você experimente o amor que vem de si mesmo, independente do que te disseram ou fizeram acreditar. Que você encontre paz ao reconhecer suas novas marcas, cicatrizes de um tempo que foi vivido, e que se alegre se elas ainda não chegaram. Que você faça as pazes com seu cabelo e não omita sua natureza. Que você cuide de seus dentes, e preste atenção à sua saúde. Que descanse quando houver cansaço e dance quando houver música.
Que você descubra os filmes que lhe falam à alma, as melodias que lhe fazem dançar de olhos fechados, os sabores que lhe fazem suspirar. Que você descubra o que aquece seu coração e, acima de tudo, que você aprenda que, se não está nesse mundo sozinho, grande parte de você atrai as pessoas. Essa parte é sua essência, a porção de amorosidade que deve ser cultivada para que cresça e floresça. E, se posso dar-lhe um conselho, acredite: você é maior do que todas essas coisinhas que lhe fazem tropeçar de vez em quando. Você é maior do que todas elas, e maior do que você pensa…