Você foi embora meio sem querer ter ido. Eu percebi que, quando você cruzou a porta de embarque do aeroporto, seu andar vacilou um pouco, indeciso. Você foi sem saber se deveria ir ou ficar, e me despedir de ti com um sorriso no rosto foi, de longe, a situação mais difícil que já enfrentei.
Tem um ditado muito antigo que diz que devemos deixar livres as pessoas que amamos. Se voltarem é porque sempre foram nossas, se não voltarem é porque nunca nos pertenceram. Quando seu avião finalmente decolou, as lágrimas me venceram e eu chorei por tudo que poderíamos ter sido.
Quando me abracei, sozinha no terminal, senti seu perfume na minha roupa. Naquele momento eu sabia que não era só o seu cheiro que tinha ficado em mim, mas disfarcei. Eu tinha que seguir em frente.
Peguei um Uber e resolvi jogar conversa fora. Todas as perguntas que ele me fazia eu encontrava um jeito de te incluir nas respostas. Você era e estava em tudo que eu havia planejado para a minha vida, e eu não tinha idéia de como rabiscar esses projetos todos novamente e sozinha.
Ao chegar em casa, perdi a fome. Deitei na cama e rodei de um lado pro outro, imaginando como você estaria. Os dias foram passando e minha insônia continuou me mexendo e me impedindo de descansar.
Quando tentei sair de casa pela primeira vez, puxei na memória meus lugares favoritos antes de você e resolvi revisitá-los. Que grande erro voltar ao passado quando você já o deixou para trás. Reencontrei amigos, recebi carinho e olhares curiosos. Ninguém sabia por onde eu tinha andado esse tempo todo. Eu não quis dizer. Me pareceu invasivo dividir a vida e as histórias com alguém que não fosse você que perguntava sobre o meu dia, me abraçava e olhava no fundo dos meus olhos antes do beijo de boa noite.
Mais dias longos. Mais noites sem dormir. Mais saudades de você.
Fui na farmácia comprar shampoo e condicionador. Quando paguei, percebi que tinha comprado os seus e não os meus, tamanho o meu hábito de cuidar de ti. Desolada pelo entendimento de que você demoraria muito tempo para sair do meu coração, chorei, chorei muito. Na farmácia mesmo. Fui andando pra casa, com as lágrimas caindo pela avenida principal. Ouvi várias vezes que chorar relaxa e alivia a dor, mas essa teoria não funcionava naquele momento. Chorar, ali, só significava reconhecer que você não era mais meu par.
Minha mãe vinha no quarto todas as noites e fazia carinho no meu cabelo antes de desejar boa noite. Ela fingia que não via o travesseiro encharcado e fechava a porta quando saia. Meu irmão abria a maçaneta de manhã e me trazia o almoço, me forçando a me alimentar. Eu comia por gratidão a ele, porque o paladar já não me acompanhava.
Quantos dias, meses ou anos seriam necessários para que você não fizesse mais parte de todos os detalhes da minha vida?