Quero dividir com você uma experiência rara e feliz que, dada sua simplicidade, merece ser compartilhada. No último sábado, sem nenhum programa especial à vista, resolvi dar uma volta pela minha conturbada cidade de São Paulo. Acabei topando com uma dessas feirinhas que reúnem pequenos produtores de artesanatos, roupas, bijous, comidinhas gostosas e outras maravilhas.
Qual não foi a minha surpresa, levando em conta a movimentada semana política pela qual havíamos passado, não havia ninguém vestido de vermelho e bradando “Lula livre!”, tampouco outros vestidos de verde e amarelo (como se as cores de nossa bandeira fosse exclusiva para apoiadores do atual governo), bradando “Lula ladrão!”. Nada disso!
Naquele espaço mágico, pitoresco e pacífico, havia casais de todos os tipos, idades, cores, orientações sexuais, tamanhos e preferências; havia pessoas sozinhas, felizes em sua própria companhia; havia crianças brincando e correndo livres e em segurança sob a árvores; havia um casal muito jovem, cantando canções de amor ao microfone, munidos de violões; havia hamburgueres de carne sendo preparados ao lado de comidinhas veganas; havia perfumes naturais; roupas costuradas a mão; pequenas joias caprichosas, encrustadas de cristais e pedras brasileiras; havia brinquedos feitos de madeira; havia uma tatuadora talentosa, fazendo sua arte; havia queijos artesanais saborosíssimos e doces sem açúcar (deliciosos, por sinal); havia cães alegres deitados aos pés de seus donos que repousavam a vida, sentados em prosaicas cadeirinhas de praia.
Naquele espaço de convivência encontrei um oásis de paz e harmonia, contrariando o mundo polarizado que nos rodeia. Naquele pequeno lugar de troca afetiva encontrei a paz, numa surpresa grata e curadora para minha alma que se ressente tanto com os discursos de ódio, a falta de empatia e a intolerância que anda nos deixando tristes, irritados e raivosos.
A gente precisa parar urgentemente de permitir que esse cenário adoecido nos contamine. Temos – todos nós – o direito de pensar diferente, de ser diferente, de agir diferente, posto que somos, de fato, todos diferentes uns dos outros.
A gente precisa aprender a discordar sem perder o respeito, a dialogar com o outro que defende outras causas, ideias e maneiras de pensar, como quem conversa com um amigo amado. A gente precisa parar de fazer inimigos gratuitos e, muitas vezes até desconhecidos, na ilusão de que aqueles que detêm o poder tem algum interesse genuíno na nossa felicidade.
A gente precisa desembarcar dessa loucura coletiva, buscar uma reconexão com aquilo que nos vai no fundo do peito, dar mais valor a ter paz do que ter razão, ficar mais interessados em relações de afeto do que em discussões vazias. A gente precisa abrir a mente para um novo modelo de existir, antes que esse movimento beligerante e cheio de ódio nos adoeça irremediavelmente.
Olhe para sua imagem no espelho. Esse aí que te contempla do outro lado é quem você sonhou ser um dia? Esse aí que te olha nos olhos refletidos se sente seguro dentro desse corpo que você anda arrastando para lá e para cá? Seja honesto!
Você merece encontrar para si mesmo alguns oásis de paz nesse mundo tão violento! Porque a vida é breve como um sopro. Porque somos todos irmãos, filhos de uma mesma mãe, ainda que muitos tenham pais desconhecidos. Somos seres transitórios. Estamos aqui de passagem. E o tipo de viagem que faremos está em nossas próprias mãos, e de mais ninguém!
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