Oi, tudo bem? Eu não te conheço direito. Talvez nem mesmo possa pronunciar corretamente seu nome. Até agora não.
Eu não sei qual é a sua música preferida, tão pouco se você gosta de acordar cedo ou de dormir até tarde. Não, eu não sei.
Você não me deu a chance de saber muito. Você chegou até mim, estendeu a mão e disse. – Oi, eu tenho depressão profunda.
Mas sabe de uma coisa? O que eu queria mesmo era ouvir, antes de tudo, algo sobre você. Isso mesmo, sobre você agachado atrás de toda essa dor. Eu queria saber se você gosta de cócegas nos pés ou se você gosta de brigadeiro de colher. Queria saber se você adora literatura inglesa ou rock nacional. Se você é romântico ou racional.
Logo, se você tivesse me estendido a mão e dito: – Oi, tudo bem? Eu adoro dormir de meias. – por exemplo. Eu teria sorrido e compartilhado contigo algo sobre mim.
Sim, eu fiquei meio sem jeito quando me disse que você era a sua dor. E na hora eu me perguntei de súbito: Quem realmente é essa pessoa?
Então, eu te olhei demorado e percebi que ali na minha frente você parecia me dizer que a depressão ficaria para sempre aí, independente do que você fizesse.
Não, você não é a sua depressão. Você não é a sua dor. Você não é a sua má fase ou dificuldade. Toda dor é passagem e quem insiste em morar nela acaba desabrigado de si. A sua dor é só um pedaço pequeno de tudo que você é.
Você é muito maior que tudo isso. Você é um universo singular, repleto de possibilidades, todos somos, mas parece que você se esqueceu disso, não é?
Então, no nosso próximo aperto de mão, eu espero poder te ver diferente. Eu espero que você se lembre do que lhe digo agora e que, ao falar de si, você possa olhar para dentro e para fora e enxergar a luz de um amanhã melhor.
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Atribuição da imagem: pexels.com – CC0 Public Domain
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