Por Fátima Jacinto
via Uma Mulher em Construção
Muitas vezes explicamos nosso sofrimento pela “obrigação”. Acreditamos que se cumprirmos nossa obrigação estaremos justificados perante o mundo, perante nós mesmos, e os outros. A consciência de dever cumprido causa em nós todo tipo de reconhecimento e estima: como mãe, como pai, como carteiro, como funcionário público, como militar ou seja lá a profissão que você tenha escolhido e os papéis que também escolheu viver nessa vida.
Quando cumprimos nossa obrigação fazemos o que deve ser feito. Mas a obrigação vem na maioria das vezes dentro de um saco escuro, o saco da privação, e acompanha o saco da privação a sensação de auto sacrifício que compreende uma boa formação para nossos filhos, se possível, e para tanto também a aceitação de um segundo emprego, cuidar de um familiar doente, e renunciar as nossas férias, mesmo estando machucado fazer um bom jogo e ganhar para evitar o rebaixamento do nosso time.
Todos nós conhecemos o sentimento de dever cumprido e também suspiramos debaixo do seu enorme peso em nossos ombros. Mesmo querendo outra coisa, nos sentimos no dever de… E assim ficamos mal com a vida porque o “dever” vem de fora, e obrigação, nesse caso, muitas vezes é uma desculpa, que nos poupa de definirmos os nossos verdadeiros objetivos e tomarmos decisões que sabemos que serão desagraveis de início. Então o grande pulo na água fria deixa de acontecer para que possamos cumprir nossa obrigação e dizermos: “meus compromissos não me permitem…”.
Acreditamos que assim vamos extrair direitos e deveres e, com esse recurso, então iremos extorquir de moral elevado, as outras pessoas. Mas quando conseguimos pensar objetivamente, não há obrigações, porque toda a imposição vinda de fora é objeto de nossa opção. Caso você esteja “na obrigação” é porque assim você escolheu.
Mas você não está vendo que é possível decidir diferente a qualquer momento, ninguém pode nos tirar a liberdade, mesmo que o preço seja a prisão. Toda a obrigação é auto imposta por nós.
Por isso nunca faça nada por obrigação, porque o ódio encontra-se profundamente arraigado na obrigação. Ódio daquele que exige sua mobilização, e, com isso, provavelmente dificulte que você viva a sua vida. Muitos de nós temos o sentimento de estarmos “devendo” para alguém, talvez para nossos pais, porque afinal eles fizeram tudo por nós. Mas mesmo nesse caso não há obrigação que seus pais não tenham decidido por eles mesmos.
Se você se sente responsável pelo bem estar da sua família, essa foi uma opção sua de ser responsável pelo bem estar de sua família, mas da mesma forma que você fez essa opção, você poderá a qualquer momento mudar de ideia e fazer outra opção. Se isso seria ou não correto, ou moralmente acertado ou não, não estamos debatendo aqui. Estamos debatendo aqui as opções que você tem em sua vida.
A maioria de nossas opções são valores morais que nos foram concedidos pela sociedade onde vivemos, e exercem uma enorme pressão para que nos coloquemos sob seus comandos.
Não podemos esquecer, no entanto, que em nome da moral e dos bons costumes muito sangue tem sido derramado e os mais duvidosos meios santificados, não só antigamente mas hoje nossa sociedade, parece que abriu a tampa da panela de pressão e está deixando sair tudo o que ficou inconsciente por séculos. A moral que sempre ditou os limites, a moral que sempre tentou elevar o outro. É a moral que nos diz: “Tenho mais direito que participar do que você”
Colocamo-nos como vitimas sem nunca ter sofrido, como se as próprias vitimas nos tivessem conferido esse poder.
Mas tudo o que fazemos para nós mesmos, porque é importante para nós, porque parece certo para nós, e porque corresponde a valores e normas que sempre aprendemos a seguir. Agimos assim por uma necessidade de nos sentirmos úteis.
E muitas vezes isso nos leva a nos empenharmos pelo bem alheio pelos motivos mais falsos e torpes possíveis.
A realidade é que não fazemos nada por ninguém apenas por nós mesmos!
Pense nisso!