Psicologia-diversos

Você precisa de coragem para enxergar a criança

Por Luzinete R. C. Carvalho ( Psicanalista )

Você precisa olhar para a criança, escutar o choro dela, escutar o que o choro quer dizer para você.

Precisa compreender a criança, legitimar seus sentimentos, valorizar seus desejos e acolher seus medos.

Você vai precisar conseguir fazer isso, olhar para a criança e aceita-la, sem críticas, sem ressalvas nem expectativas.

Vai precisar olhar para a criança e acha-la bonita, mesmo quando foi dito que ela era feia, acha-la inteligente mesmo quando disseram que não era, e ao fazerem isso, não pensaram nas marcas que deixariam em sua auto estima.

Vai precisar olhar para a criança e acha-la esperta, sabida, mesmo quando foi comparada com outras e disseram que as outras eram mais espertas, mais sabidas.

Você vai precisar olhar para a criança e dizer que não, ela não é tímida, bicho do mato, ou raivosa, nem ciumenta, nervosa ou mal educada, nem frágil, lenta ou rápida, nem acima ou abaixo da média; que isso tudo foram rótulos que soltaram sem pensar no mal que causariam para a criança.

Você vai precisar olhar para a criança e confiar nela, mesmo quando os pais disseram que ela não conseguiria, mesmo quando os professores duvidaram, mesmo quando todos desacreditaram, mexendo para sempre com sua auto confiança.

Você vai precisar ter coragem para olhar para a criança e compreender que as palmadas, as surras, os castigos físicos e psicológicos não fizeram nenhum bem. Mas deixaram humilhação, solidão e tristeza como herança.

Você vai precisar de muita coragem para olhar para a criança e enxerga-la sozinha, sem olhar atento, sem colo amoroso, sem beijo carinhoso, sem toque, sem sensações.

Vai precisar de muita coragem para olhar para a criança e enxerga-la assustada, com medo, com lágrimas, desejando um abraço e recebendo olhares bravos ou indiferentes.

Você vai precisar de muita força e muita coragem!

Pegue uma foto sua de quando era criança.

Pois é desta criança que estou falando.

Estou falando da criança que você foi um dia!

Pode olhar para o espelho, e buscar dentro de você os resquícios da criança que você foi.

Da criança que não recebeu o que precisava, da criança que ainda hoje tem medo de pedir mais do que tem, da criança que até hoje tenta se contentar ou se conformar com o que recebe, como se isso fosse o máximo que a Vida pode oferecer para uma criança feia, pouco inteligente, tímida, raivosa, ciumenta, manipuladora.

Da criança que até hoje tenta corresponder as expectativas dos outros, tentado ser ainda a melhor, a mais rápida, a que consegue fazer mais coisas ao mesmo tempo, anulando a si mesma e vivendo sob terrível pressão.

Você vai precisar de muita coragem para lembrar de verdade sobre algumas coisas do seu passado, da sua infância, da criança que você um dia foi.

Vai precisar ser forte, para conseguir lidar com a dura verdade de que grande parte do que você pensa sobre si mesmo, está ligado ao que os outros pensaram sobre você desde a infância.

Vai precisar ser muito forte, para descobrir que a maneira como você SE enxerga está relacionado a maneira como os outros o enxergaram.

Vai precisar de muita coragem para legitimar seu sofrimento infantil e lidar com o medo de sentir raiva dos seus pais, dos seus tios, dos seus parentes, dos seus educadores.

Vai precisar de muita coragem para lidar com os sentimentos que experimentou e com a mágoa que descobrirá dentro de você, que tem raízes na infância.

Você vai precisar ser forte para olhar para a criança que você foi, e compreender que na infância foram lançadas as sementes dos seus medos atuais, da sua falta de jeito em se relacionar, das suas más escolhas na vida amorosa, da sua insegurança na vida profissional.

Você poderá descobrir que talvez também tenha sido na sua infância que lançaram as sementes da sua dificuldade em lidar com seus próprios filhos do jeito que você gostaria, do jeito que você racionalmente sabe que é o melhor jeito, mas que na prática parece inatingível.

Você precisa olhar para a criança que você foi.

Abraça-la, acarinha-la, dar para ela a compreensão que ninguém nunca foi capaz de dar.

Vai precisar dar colo para esta criança.

Você vai precisar ser capaz disso, de fazer as pazes com a criança que você foi. Com a criança que ainda está dentro de você, e continua com medo de desafiar, de decepcionar, de magoar, de errar, e por isso não tenta, não ousa, não evolui, não cresce, não se liberta e não é feliz…

Se você conseguir olhar e enxergar a criança que você foi, em tudo que recebeu, mas também em tudo que faltou, talvez você consiga oferecer para ela aquilo que ainda falta, e talvez hoje, sua auto estima se fortaleça, para que a partir de hoje, você seja capaz de ousar, de seguir em frente, para que você seja capaz de amar.

Para que hoje, você seja capaz de estar com seu filho oferecendo para ele tudo aquilo que você mesmo não recebeu e precisava, evitando os erros que marcaram sua vida, mas o mais importante: conseguindo olhar verdadeiramente para seu filho e ser capaz de oferecer o que ELE precisa!

E ao ser capaz de oferecer o que seu filho realmente precisa, você finalmente estará sendo o pai ou a mãe que gostaria de ser.

Se você conseguir isso, talvez consiga pegar seu filho pela mão e chama-lo para brincar, junto com a criança que você foi um dia, mas que agora encontrou quem você é hoje.

E nesta absoluta e consciente integração, poderão juntos encontrar os caminhos para uma vida feliz.

Mas você vai precisar ler este texto mais uma vez, e ter a coragem de olhar para a criança que você foi e que ainda sussurra dentro de você, esperando apenas ser ouvida e desejando receber só um pouco de carinho…

PS.: convém dizer que este texto não serve para todo mundo! Só serve para quem sentir, intuir que a infância que viveu interfere, de alguma forma, em aspectos da vida atual. Se não serve para você, simplesmente ignore, mas saiba que ele pode servir para muitas pessoas, e merece respeito, tanto quanto as pessoas que estão tendo a coragem de olhar para a criança que foram, buscando respostas, buscando a redenção, para se sentirem livres e fortes, e então viverem a vida plena e feliz que merecem.

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