Há aproximadamente cinco anos escrevi um texto para a Revista do jornal O Globo chamado “Filho é para quem pode”. No texto, eu não fazia nenhum tipo de apologia contra a maternidade, apenas falava sobre a minha opção de não ter filhos, apesar de ser biologicamente saudável e do imenso amor que sinto pelas crianças.
Não imaginava que o assunto fosse um tremendo tabu e pudesse gerar tanta polêmica.
Em dois dias, mais de duzentos e-mails entupiram minha caixa de entrada. A grande maioria deles era de mulheres me agradecendo por ter tomado a iniciativa de falar abertamente sobre o tema – muitas delas relatavam que estavam levando o texto dentro de suas bolsas para ler para amigos e familiares quando se sentiam pressionadas. Já outras preferiram me agredir, dizendo que eu devia ser mal comida, mal amada, que devia ter o útero seco, que devia ter uma péssima mãe, que devia ser proibida de escrever essas bobagens num grande veículo, etc, etc, etc.
Eu poderia ter me dado ao trabalho de dizer que nenhuma das afirmações era correta, que minha mãe é maravilhosa, que tenho um homem incrível ao meu lado há mais de dez anos que me devota amor e me come deliciosamente, que sou plenamente saudável e questioná-las sobre a liberdade de escolha, mas para quê?
Acabei sendo convidada a participar de programas de TV como Fantástico, Sem Censura e Happy Hour e, anos depois, quando a revista Veja fez uma matéria sobre uma pesquisa do IBGE que apontava a queda da natalidade no Brasil entre mulheres com nível universitário, fui convidada a dar minha opinião na matéria, mas declinei.
Declinei porque não levanto bandeiras, não sou contra a maternidade e acho que cada pessoa tem o direito de viver de acordo com seus sonhos e necessidades. Meu texto falava sobre a minha opção pessoal e convidava o leitor a refletir sobre alguns pontos, como:
“Filhos não são pílulas contra a monotonia, pílulas da salvação de uma vida vazia e sem sentido, pílulas “trago seu marido de volta em nove meses”. Penso que antes de cogitar a possibilidade de engravidar, toda mulher deveria se perguntar: eu sou capaz de aceitar que, apesar de dar a luz a um ser, ele não será um pedaço de mim e, portanto, não deverá ser igual a mim? Eu sou capaz de me fazer feliz sem ter alguém ao meu lado? Eu sou capaz de abrir mão de determinadas coisas em minha vida sem depois cobrar? Eu sou capaz de dizer ‘não’? Eu quero mesmo ter um filho ou simplesmente aprendi que é para isso que nascemos: para constituir família?” O texto está no meu livro A Louca do Castelo, mas pode ser lido na íntegra aqui.
Pois bem, esta semana deparei-me com um vídeo de humor no Facebook, do tipo jornalismo fake, que conta com mais de 35.000 compartilhamentos. Conteúdo do vídeo: uma mulher casada há mais de 12 anos, com três filhos e dois empregos, resolve roubar uma loja e acaba sendo presa. O marido envia um advogado, mas ela se nega a sair da prisão porque se sente feliz atrás das grades e alega: “pela primeira vez na vida estou tendo tempo, vou colocar toda a minha leitura em dia e ouvir todos os discos que tenho vontade, estou amando esse silêncio”.
Não consegui rir. Senti um profundo desalento assistindo ao vídeo. Apesar de saber que se tratava de ficção não pude deixar de fazer a pergunta: por que, ou para quê, essa mulher teve filhos?
Tenho observado que apenas 20% das mulheres que conheço e que tiveram filhos nos últimos tempos parecem felizes. A grande e esmagadora maioria, se pudesse, faria como a atriz do vídeo: fugia, ainda que fosse para a prisão. Mulheres que detestam suas novas rotinas que incluem cuidar da alimentação diária, higiene e da boa educação das crianças, levar e buscar em escola, natação, médico; passar noites sem dormir. Reclamam constantemente de suas aparências, não apenas do ganho de peso que não conseguiram se livrar após o nascimento da criança, mas também de olheiras, flacidez, unhas por fazer, cabelo por cuidar. Queixam-se de falta de envolvimento, romance e apetite sexual do parceiro (ou delas próprias).
As que abriram mão da vida profissional para cuidar dos filhos, cedo ou tarde se sentem insatisfeitas (para não dizer deprimidas) com a vida doméstica. As que tentam conciliar filho e trabalho, em geral, parecem bombas-relógios prestes a explodirem e cobram paulatinamente um envolvimento maior dos pais, o que gera muitas discussões e desgasta bastante os relacionamentos.
Ok, os pais deviam (devem!) participar ativamente da criação dos filhos, mas não tem jeito: na hora que o bicho pega a criança grita pela mãe, quer a mãe. Portanto, por mais que os pais sejam presentes e ativos, infelizmente o trabalho da mãe será sempre dobrado.
Assistindo ao vídeo e pensando nas mamães aparentemente infelizes que conheço, penso: elas não sabiam que seria assim? Elas não sabiam que suas vidas mudariam completamente?
Impossível acreditar que, em plena era da informação e da tecnologia, com milhares de revistas e blogs sobre o assunto, algumas mulheres não tenham ciência do quão trabalhoso é criar um filho. É como digo no texto “Filho é para quem pode”: “Dar a luz a um bebê é fácil, difícil é ser mãe da própria vida e iluminar as próprias escuridões”.
Conheço mulheres que detestam crianças, não têm paciência para crianças, mas dizem que querem ter filhos. Confesso que não compreendo isso. Fico me perguntando: elas querem ter um filho ou um bebê?
Sim, porque existe uma diferença enorme entre uma coisa e outra. Bebês são fofos, dengosos, cheirosos. Quem resiste ao sorriso de um bebê e a um quartinho todo decorado com girafinhas e frufrus? E os sapatinhos mimosos? Uma delícia tudo isso, não? Finalmente uma boneca de verdade. Ocorre que a boneca cresce. Torna-se um ser humano com vontades próprias. Desobedece, faz pirraça, adoece, chora, briga na escola, quer a mochila da Pepa, o tênis do Ben10. Cresce e torna-se adolescente. E na adolescência, como sabemos, o trabalho (e as preocupações) triplica. Sem esquecer os gastos que a criação de uma criança implica e lembrando que, para aquele bebê cheiroso e dengoso se tornar um ser humano digno, amável, respeitável, bem educado e de bom caráter, é preciso muito empenho, amor, carinho e dedicação integral. É preciso vigília constante, sobretudo dar bons exemplos, abrir mão de muita coisa.
Não sei, mas tenho pensado a cada dia que passa que, como tudo na vida, a maternidade pode ser uma questão de aptidão. Existem mães plenamente felizes e realizadas com suas escolhas, responsáveis, que criam seres saudáveis para a vida adulta, cercando-os de amor, carinho e compreensão; que não enxergam a dedicação diária como um peso.
Por que isso não acontece com todas as mães? Talvez porque algumas não tenham aptidão! Engravidam somente para atender a cobranças sociais, constituírem família por acreditar que não tiveram uma suficientemente boa e/ou, pior, para ter quem cuide delas na velhice – o que, convenhamos é no mínimo egoísta.
Como tudo na vida, quando estamos cientes de nossas escolhas (e motivações) e de suas consequências, a jornada se torna mais agradável. Portanto, gurias, não deixem de se perguntar nunca: quero ter um filho ou um bebê para fazer fotos engraçadinhas e postar nas redes sociais? E boa viagem, seja lá para que lado for…
Texto publicado originalmente em Obvious.
(imagem: google)
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