Quando você esvazia a carteira, retira os acessórios, cala as frases de efeito, apaga os sorrisos diplomáticos, quem está ao seu lado? O que sobra para você? Quem afinal é você?
Isso não é uma provocação, nem sequer uma afirmação de que sem o verniz social não sobra nada. É sobre justamente o oposto. Quem somos quando não precisamos provar nada a ninguém?
Uma pergunta daquelas que só se responde a si mesmo, a mais ninguém.
Mas necessária. Vital. Precisamos saber com quem andamos fazendo tratos na vida, precisamos avaliar de quem realmente precisamos por perto, quem faz nosso coração bater mais rápido mesmo sem celebrações ou conquistas, apenas por puro afeto.
Quando retiramos a maquiagem, vemos as imperfeições que tentamos esconder, reconhecemos nosso rosto original, aceitamos que ao natural somos a pessoa que vemos no espelho e nenhuma outra mais. Assim é a nossa vida, que inúmeras vezes retira a nossa pintura, nos deixa tão descoloridos, quase nada…
E quando nossa alma está nua, quando passamos pelas mais difíceis fases da vida, quando o sol não entra na nossa janela, quem somos para nós mesmos e para quem cultivamos uma vida de relações? Quem estaria ao nosso lado, quem nos ofereceria um abraço para abrigar, o ombro para chorar, o tempo, os recursos, a alegria para dividir?
É importante fazer uma análise antes de proferir acusações e lástimas, pois, sejam quem forem os nossos afetos e as expectativas que colocamos neles, lembremos sempre que nós os escolhemos e nos ligamos a eles pelo que achamos importante no momento. E se o importante hoje não for o bastante, é porque eles não conseguem reconhecer quem somos quando não somos nada, quando estamos sem maquiagem.
Imagem de capa: Africa Studio/shutterstock