Por Tatiana Nicz
Existem milhares de coisas a se aprender em um momento de dificuldade, uma delas é realmente descobrir quem são os “teus”. Da mesma maneira que nos decepcionamos com quem nos vira as costas, nos surpreendemos também em ver a abundância que existe no Universo em nos abrir caminhos. Quando se está sensibilizado o pouco pode valer muito, qualquer sorriso, abraço, pequeno gesto pode significar muito mais, porque na verdade isso é mesmo algo grandioso. A verdade é que estamos todos carentes de afeto e por isso essa ajuda que me refiro aqui não vem com dinheiro ou bens materiais. Porque não precisa “ser” para dar dinheiro ou algo à alguém, basta apenar “ter”.
É importante que a gente aprenda a reverenciar o momento, por mais difícil que ele seja, ele nos torna vulneráveis e a vulnerabilidade nos torna mais humanos. Quando estamos vulneráveis precisamos mais ainda do outro, que se apresenta em um ombro amigo, um abraço ou um pequeno ou um grande ato de gentileza. Em horas difíceis ficamos mais disponíveis e abertos para receber essa ajuda que está disponível no Universo e que poderá vir de qualquer pessoa. Pode ser um antigo amigo ou um estranho. O que entendi é que realmente não existe uma pessoa que possa nos completar por inteiro, seria muita responsabilidade para uma pessoa apenas e muita ingenuidade nossa achar que com tanta gente no mundo, uma, umazinha apenas, nos completaria.
Existem alguns poucos que estarão ao nosso lado por toda a vida, do resto somos preenchidos por encontros. Pequenos gestos de gentileza que vêm dos lugares mais inesperados, em diversos momentos, essa é a beleza da vida. Mas esse movimento começa primeiramente por você. Uma dor grande te faz mais cuidadoso, qualquer desprendimento de energia à toa gera uma dor que pode fazer seu coração transbordar, então é preciso também cuidado. Aprender a identificar bem aqueles que você pode contar. Eles não são muitos, mas são essenciais. É preciso saber identificar e conectar na fonte certa.
Acredito que na maioria das vezes essa fonte não esta onde você esta procurando: no outro (quem quer que ele seja). A boa notícia é que ela está muito mais próxima e acessível do que você imagina, ela está em você. “Nenhum homem é uma ilha isolada em si” sim, John Donne estava certo, ao mesmo tempo que não somos ilhas, precisamos aprender a ser uma antes de virar continente. A palavra é solitude. Solitude é diferente de solidão, é um isolamento voluntário. É saber parar para escutar a voz que vem de dentro. Aprender a ser inteiro. Você sozinho pode se sentir amado. Isso parece quase impossível, porque o verbo amar já é na maioria das vezes transitivo direto.
[quote_box_left]…a resposta é reivindicarmos a nossa capacidade de sermos amados.[/quote_box_left]
Acontece que a resposta não está em dizer a si mesmo “sou amado”; a resposta é reivindicarmos a nossa capacidade de sermos amados; de buscar reconhecimento o tempo todo, de buscar isso no outro. Mas John Donne sabia das coisas, realmente não somos ilhas, somos um grande continente, mas estamos buscando ser continente da maneira errada. É nas ações, no ato de viver em comunidade que precisamos nos tornar continentes, mas antes disso precisamos ser ilha. A ajuda ao outro é fundamental, ninguém nunca logrou e nunca logrará nada sozinho. Mas só ajuda ao outro quem consegue se ajudar primeiramente.
Saber receber de graça, de quem vier, é um ato engrandecedor. Nossa língua portuguesa não nos ajuda nesse sentido. A palavra “obrigada/o” vem de “me sinto obrigada/o em lhe retribuir o favor” o que parte do princípio que estou ou estarei o tempo todo em dívida com o outro, a meu ver não tem nada de bonito nisso. No inglês temos a palavra “thank you”, que vem do sentimento profundo de “thankful”, cheio de graça, é o que devemos sentir por aqueles que nos estendem uma mão. Para ser justa com a nossa língua, temos também palavras como agradecida/o ou grata/o, então você pode sim escolher e principalmente saber sentir gratidão.
E a beleza da vida está nisso, em aprender a dar o que podemos e receber de graça, em nos tornarmos mais fortes através da cooperação. Você sabe quem são os teus? A reposta é não. Ninguém deve saber, porque só em pensar já condicionamos em pouco o que pode estar em muitos, porque isso também depende de como você se apresenta ao mundo, se você é uma ilha grande ou pequena, de como você se abre para receber ajuda, de quem você escolhe manter em sua vida. Não adianta tentar “catalogá-los”, pode ser um número de pessoas muito maior que você imagina, ou muito menor. O que sei é apenas isso: os tEUs é o que vive em dEUs e não é por acaso que ambos são preenchidos de EU.
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