Você trabalha ou dá aula? – Considerações a respeito da Síndrome de Burnout

A dinâmica educacional segue seu curso em um ritmo descompassado em relação ao que há fora dos muros escolares. As transformações de mundo, sociedade e cultura não são acompanhadas pela lógica educacional. Os atores desse ambiente, docentes e discentes, conflitam em valores, princípios, ideias e concepções. A convivência se assemelha a uma “”queda de braço”” em que todos saem pelo menos fadigados e porque não dizer machucados. Por lidar diretamente com pessoas, as demandas e responsabilidades depositadas nos ombros dos professores é enorme.

O docente precisa constantemente se revitalizar profissionalmente. É necessário estar atento, atualizando-se sobre novas maneiras de ensinar, além de procurar se inteirar das tecnologias disponíveis.

Os educadores precisam lidar também com a desestruturação familiar, alunos com defasagem cognitiva e indisciplina, que, por outro lado, pode ser uma reação dos educandos pelas práticas e propostas educacionais, que não atendem às suas necessidades e realidades.

A burocratização das atividades, a falta de motivação e de valorização do profissional da educação e o desgaste emocional se manifestam em doenças e fobias. O docente se sente sozinho, o que requer um sobre-esforço na realização de atividades além das suas possibilidades e, com medo de não dar conta da situação, adoece. Essa enfermidade advinda do ambiente profissional, ligada às altas demandas emocionais, é conhecida como burnout (do inglês – o que queima e corrói), ou seja, síndrome de esgotamento profissional, pela qual o docente perde o sentido da sua relação com o trabalho.

Os registros da Organização Internacional do Trabalho apontam que a profissão docente está entre as mais desgastantes do mundo, gerando alta incidência de licenças por conta de problemas de saúde.

E há ainda aqueles que perguntam: “Você trabalha ou dá aula?”

Entre as consequências do mal estar na área profissional da educação, o autor Wanderley Codo (Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 2002) cita a exaustão emocional, a despersonalização e a falta de envolvimento pessoal no trabalho, em que o desejo de abandonar a docência pode surgir.

Mas, a pior das reações do profissional que adoeceu é a fuga. É olhar o processo, mas não mais nele se reconhecer. (Para maior detalhamento do tema, conferir Silva, M.P. G.O. et.al. A silenciosa doença do professor: burnout, ou mal estar docente. Revista Científica Integrada – Unaerp Campus Guaurjá, Guarujá, 06 jun. 2013).

Há um longo caminho a ser percorrido: é preciso que haja políticas de prevenção do governo, para reconhecer os problemas dos professores como doença de trabalho, o que hoje é ignorado. A legislação trabalhista, até o momento, não reconhece a síndrome de Burnout como uma grave doença. E é muito mais grave que o estresse, explica a pesquisadora Mary Sandra Caroloto no texto “”A Síndrome de Burnout e o trabalho docente””. 7ª ed. Paraná: Psicologia em Estudo, 2002.

Pesquisa na área de saúde sobre a região sudeste do Brasil aponta que, de 77 professores que responderam aos instrumentos de coleta de dados, 54 professores (70,13%) apresentavam sintomas de Burnout, e, dentre eles, 85% sentiam-se ameaçados em sala de aula, 44% cumpriam uma jornada de trabalho superior a 60 horas semanais e 70% estavam incluídos na faixa etária inferior a 51 anos (Levy, G.C.T.M. et. al. Síndrome de Burnout em professores da rede pública, Revista Prod. vol.19 n. 3 São Paulo, 2009).

É fundamental que o professor tenha à disposição uma equipe multiprofissional que possa ir a fundo para identificar a origem do mal, entender os motivos dos adoecimentos e apontar caminhos alternativos, além de políticas trabalhistas e educacionais que oportunizem cobertura assistencial médico-ambulatorial e hospitalar mais digna e completa.

Profa. Denise Lemos Gomes, licenciada em Letras Português/Inglês e em Pedagogia, mestra em Educação e doutora em Educação, Coordenadora de Letras: Português/Inglês da Uniso. ([email protected])

Profa. Daniela Aparecida Vendramini Zanella, licenciada em Letras Português/Inglês, mestra em Educação e doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Na Uniso, é professora no curso de Letras, bolsista/formadora PIBID/CAPES e coordenadora do grupo de estudos “Tempo de Aprender”. ([email protected])

Fonte indicada: Jornal O Cruzeiro







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