Vou tentando me encontrar
Por Adriana Vitória
Ele é maravilhoso ! Temos muito em comum ! Ela adora meus filhos ! Ele é bonzinho ! Ela é legal ! Ela é divertida ! E por aí vai …

Essas são algumas das muitas expressões que tenho ouvido ao longo dos anos. Alguns meses, semanas ou até, dias depois a coisa muda:

Ele é um egoísta ! Ela é muito chata, não gosta de fazer nada que eu gosto ! Ele não suporta meus filhos! Ela é pão dura ! E seguem as lamentações quase como refrões.
É o fim ! Mais um ! E a fila, que mais parece a de um banco, segue em frente aumentando cada dia mais a frustração.
A solidão anda incomodando cada vez mais, e na tentativa de resolver a questão, tenho visto muita gente, cada vez mais deprimida e desesperançada,  se apaixonando pelo primeiro(a) que aparece e logo desaparece, como na música de Altemar Dutra, “Você não me Ensinou a te Esquecer”:

“E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro”

Ou nesse:
“Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho”

E termina:
“Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou tentando me encontrar

Na tentativa de denunciar o abandono, acabamos nos denunciando. A música deixa claro que o indivíduo esta em busca de si mesmo.

Linda música ! Linda e melancólica.
A verdade é que, a solidão só aparece para aqueles que não suportam o vácuo, aqueles momentos tão necessários em que estamos cara a cara conosco, nossos medos, ansiedades e necessidades, então partem em busca de um lugar “seguro”, aquele que nos distancia de tudo que mais tememos, nós mesmos.
Nunca entenderam que, este contato é fundamental para desmistificar nossos fantasmas, descobrir nossas qualidades, nos transformar, tomar fôlego e pegar a estrada novamente, renovados e mais maduros.
Não há mágica no ciclo da vida, é a única forma de crescer.As eternas frustrações seriam evitadas se parássemos de tentar nos encontrar no outro e no outro, fugindo de nós mesmos, iludidos e refugiados em “casamentos” ou “sociedades” amargas com pessoas que mal conhecemos. E como poderíamos se nem nos demos a chance de sabermos quem somos e o que de fato queremos ?Seguimos sabotando a nós mesmos com a ilusão de que o próximo irá proporcionar a felicidade tão desejada e o amor tão esperado. A angustia só termina quando paramos para nos apreciar, arrumar a bagunça e seguir em frente.Quantos de nós, hipocritamente,  não acham graça daqueles que passam anos sozinhos sem querer sair com qualquer um ? Como diz o ditado: “Antes só do que mal acompanhado.”

Muito se perde ao longo dos anos com esta recusa, incluindo nosso tempo de vida desperdiçado com quem não tem nada em comum conosco. Se perdem as oportunidades de se ser feliz profissionalmente e até de encontrar quem de fato seria, o amor da nossa vida.

Não confundam tudo isto com amor. O amor não julga e nem cobra porque não precisa, ele sabe a quem pertence.
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Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem.