“Vozes da Floresta” é um documentário de Betse de Paula, estreado no 29º Cine Ceará (Festival Ibero-americano de Cinema), quilombolas, quebradeiras de coco e indígenas famosas —como a política Sônia Guajajara — e anônimas são protagonistas de narrativas que contam todas as crises do Brasil atual. A principal delas, a ambiental.
As mulheres retratadas se definem como povos das águas, os ribeirinhos, os quilombolas, os da periferia, da cultura e das tradições. São mulheres que enfrentam balas e arames para defender seu direito à terra e de proteger a natureza que as cerca.
O longa-metragem nasceu da série Guardiãs da Floresta, exibida no Canal Brasil, que, em dez capítulos, conta a história dessas mulheres. “Infelizmente, o filme ficou bem atual. Quer dizer, ficou urgente”, acrescenta a diretora Betse de Paula para o jornal El País, referindo-se à onda de incêndios que devasta a Amazônia.
Para elas, a política ambiental está intrinsecamente relacionada à própria sobrevivência. “A luta do povo negro no Brasil tem 486 anos. E o primeiro passo para nossa liberdade real é o direito à terra”, afirma Nice Machado, de 55 anos, líder da Associação das Comunidades dos Negros Quilombolas e Rurais do Maranhão.
“A grilagem nos expulsou de nossas terras. Grande parte do nosso povo foi morar na beira das estradas”, lamenta Rosa. A quebradeira de coco também se queixa de que o conceito de floresta, na concepção popular, restrinja-se à Amazônia. “Existem outros tipos, há uma biodiversidade imensa. E, se a gente for dono dos nossos territórios, a gente cuida. A gente não deixa o fogo passar” afirma.
O documentário mostra tanto o cotidiano delas em suas associações —seja catando e quebrando coco de babaçu, palestrando sobre política para mulheres ou viajando à Brasília para protestar no Congresso— quanto as ameaças às quais estão sujeitas e cenas explícitas de violência, como o assassinato de um indígena por grileiros em Rondônia.
Vozes da Floresta argumenta que todos os Governos, à direita e à esquerda do espectro político, falharam nas questões de política ambiental e proteção às comunidades originárias.
As mulheres que defendem a Amazônia e as outras florestas do Brasil não se deixam intimidar. A diretora Betse de Paula confessa que teve medo de que o documentário aumentasse as ameaças e pressões sobre essas líderes e suas famílias. “Por outro lado, penso que dar visibilidade também é uma forma de proteger, porque, se acontecer alguma coisa com elas, haverá represália. Isso me deu um certo conforto”, matiza. Já as mulheres não titubeiam. Elas não têm medo de nada, não.
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