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Wikinomia, o novo modelo econômico que vai atropelar nosso ego

Eu já falei algumas vezes sobre como eu amo o século 21 e como eu amo a internet. Já falei, aqui, que estamos todos perdoados por nos sentirmos tão perdidos, porque uma mudança social desse tamanho deixa a gente meio lélé da cuca mesmo.

Eu gosto muito de comparar o momento atual com a terceira revolução industrial do século 18, porque, quando o modo de produção mudou, tudo mudou. Inclusive o comportamento e pensamento das pessoas. Surgiram novas profissões, novos caminhos, novas possibilidades. Não vou entrar na questão sobre esse episódio ter sido bom ou ruim. Ele aconteceu e temos que encarar as coisas que aconteceram sem ficar imaginando o que poderia ter acontecido.  Comparando a transformação que ocorreu com o momento atual, sinto informar que a nossa geração está no meio do redemoinho da era da informação. A gente está exatamente na fase onde as coisas começam a mudar.

E, sim, isso tem a ver com a internet. A internet abriu um mundo de possibilidades na nossa frente e vocês já viram que, em 15 anos, o mundo mudou drasticamente. Eu, por exemplo, trabalho com marketing digital e sou escritora de um blog. Na época dos meus pais, essas profissões nem existiam. Imagina só. Que diabos eu ia fazer da minha vida se eu tivesse nascido há 30 anos? Talvez minhas palavras nem tivessem oportunidade de chegar a vocês. Imaginem quantos escritores maravilhosos morreram sem ninguém saber que eles existiram?

Pois bem. Enrolei até aqui para dizer que nosso modelo econômico está totalmente defasado. Já repararam quantas pessoas estão buscando novas alternativas? Quantas pessoas não estão aceitando mais o trabalho de que não gostam? Estão inquietas, pensando no que vão fazer da vida profissional antes dos 30. Sim, estamos todos perdidos e deslocados, tentando achar um meio para nos encaixarmos. E sabe por quê? Porque nós somos a primeira geração que começou a vislumbrar um futuro totalmente diferente do presente. A gente viu o quanto a tecnologia mudou o mundo em 10 anos e a gente pensa “Opa, peraí. Se em 10 anos eu tenho um celular que tem mais tecnologia do que o computador do que eu tinha em casa, imagina daqui a 10 anos?” A tecnologia cresce exponencialmente, de acordo com a lei de Moore, então a gente começa a perceber que esse modelo econômico e esse modo de trabalho não está funcionando mais.

É como se a gente tivesse usando uma roupa muito apertada o tempo todo, porque a gente cresceu demais, mas ainda insistem e dizem que a gente tem que usar essa roupa. Não temos. E nós somos os responsáveis por fazer roupas novas, que caibam na gente, que caibam nas nossas vontades e visões de mundo. Ninguém sabe do futuro, dessa vez não tem nenhum sábio que possa nos dizer como nos comportar. A mudança está em nossas mãos. Olha o mundo em guerra, em crise econômica, social. E olha para a gente, completamente perdida dentro das possibilidades, porque elas simplesmente não cabem mais. Vamos abrir a mente e mudar tudo! A boa notícia é que isso está acontecendo. Existem pessoas, tipo o Tanaka, um cara incrível que eu descobri pela internet, que abriu uma empresa horizontal.

Uma empresa horizontal não tem hierarquia, nem horas de trabalho. Cada um trabalha exatamente com o que quer trabalhar e recebe o salário de acordo com o que produziu na semana. Toda vez que eu falo isso, as pessoas me perguntam como isso pode funcionar. Bem, leiam este texto, porque ele pode explicar muito melhor do que eu.  Esse tipo de empresa vai ao contrário do que nosso modelo econômico propõe. Mas, por mais que a gente queira abrir uma empresa que faça bem para o mundo, produza produtos orgânicos ou conteúdos interessantes e seja totalmente criativa e fora dos moldes, nada vai mudar, se a gente não mudar nossa mentalidade. A mentalidade de que o dinheiro rege nossas vontades. Hoje, dinheiro não é nada menos do que o denominador comum de nossas vontades. Mas existe uma linha muito tênue aí, porque várias empresas criativas acham que estão inventando a roda, mas pagam mal seus funcionários, porque o importante mesmo é trabalhar com o que gosta e vestir a camisa. Pera lá, né? Esse papo também confunde muito a cabeça das pessoas.

O dinheiro é necessário e continuará sendo. O que estou propondo aqui é uma recolocação do significado do dinheiro. Da mesma forma que existem pessoas que ficam o dia todo sem fazer nada e ganham uma baba, existem pessoas que ralam o dia todo e ganham bem pouquinho. E isso não é justo. Riqueza não deve mais ser atrelada diretamente ao sucesso vazio. O sucesso é medido pelo que a gente tem, pela fama, pelo poder. Mas, se a gente olhar no dicionário, sucesso é simplesmente se sair bem em alguma coisa. Por que a gente mudou o significado dessa palavra tão importante para as nossas autoestimas?

E o que eu estou propondo e começo a perceber é o surgimento da Wikinomia. Esse é o nome que algumas pessoas estão dando para o próximo modelo econômico do mundo. E eu o considero mais justo e mais compatível com o mundo de hoje. Sabe o Wikipédia? Então, ele é um canal aberto para qualquer pessoa escrever uma informação ou editar uma informação que já está lá. Ou seja, você é produtor e, ao mesmo tempo, consumidor do conteúdo. Você dá e recebe informação de volta. A wikinomia funciona mais ou menos da mesma forma. Ela é baseada na troca. Você oferece um produto e recebe outro.  Quantas páginas de troca você já viu pelo Facebook? Justamente, esse é o começo da wikinomia. Uma brasileira criou um aplicativo super legal pelo qual você troca funções. Por exemplo, eu sei costurar e alguém sabe consertar computador. A gente pode se ajudar mutuamente e receber. Ou, então, o “Tem Açúcar”, que é um site onde você pode pedir emprestado algo para pessoas do seu bairro. Claro, ainda existe aquele receio de emprestar coisas para alguém que você não conhece, mas é que a gente está muito preso a esse modelo defasado e individualista. É preciso expandir e arriscar algumas coisas.

Até o próprio Catarse é uma nova forma nova de economia. Você não precisa mais de um super investidor pra tirar sua ideia do papel. Você só precisa de uma boa ideia e de um bom poder de convencimento para as pessoas investirem o dinheiro e o tempo delas no seu projeto. O Airbnb, que é uma rede de aluguéis de casas e apartamento. Ou o Kina, que é uma rede micro-empréstimos de pessoas para outras pessoas. Você pode emprestar seu dinheiro em pequenas quantias, sem precisar remunerar um banco, por exemplo.

Eu poderia ficar aqui citando um monte de novas empresas e pessoas geniais que estão fazendo essa roda girar. E a gente precisa abrir os olhos para isso, porque o mundo está se transformando e nós podemos ser engolidos ou ajudar essa roda a girar. Talvez a gente não exista mais quando surgirem as teorias do que aconteceu com o mundo nesse período, porque, para enxergar alguma coisa, é preciso se distanciar dela. Eu não sei qual futuro nos aguarda e, sinceramente, essa era da informação me assusta muito, até porque eu tenho muita dificuldade em focar e pensar claramente, com TANTA coisa surgindo ao mesmo tempo.  A gente sente necessidade de ter uma opinião sobre tudo. Precisa saber tudo, toda hora. Mas a verdade é que a gente tem o direito de não saber e tem o direito de não querer saber também. Você pode priorizar aquilo com o que quer se importar.

As oportunidades, nesse momento, são infinitas e a gente pode escolher não cagar com o mundo outro vez. Por mais que a gente nunca vá salvar o mundo de verdade e por mais que a gente nunca consiga acabar com o sofrimento, dá para melhorar bastante, né? Ou você quer continuar reclamando de tudo no Facebook?  Essa é nossa chance. Não a desperdice, por favor.

Marcela Picanço

Atriz, roteirista, formada em comunicação social e autora do Blog De Repente dá Certo. Pira em artes e tecnologia e acredita que as histórias são as coisas mais valiosas que temos.

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Marcela Picanço
Tags: Wikonomia

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