Paraíso, segundo longa-metragem da diretora mexicana, Mariana Chenillo, produzido por Gael Garcia Bernal, aborda a questão da obesidade para falar de relacionamentos, da cruel exigência de belezas padronizas e da perda de nossos códigos de felicidade. Um filme delicado. Na tela o que se pode observar é a angústia dos nossos dias.
O filme conta a história do casal Alfredo (Andrés Almeida) e Carmen (Daniela Rincón), um casal feliz que saboreia a relação: beijam-se, transam, comem sem culpa; são felizes. Após o surgimento de uma proposta de trabalho para Alfredo, o casal se muda para o barulhento Distrito Federal, na Cidade do México. Em uma festa da empresa do marido, Carmen, sente-se humilhada por causa de seu sobrepeso e decide começar uma severa dieta. Fica obcecada por seu peso e mergulha na ansiedade e na culpa. O filme é delicioso e leve, mas o mais importante: aborda a questão da padronização estética.
Outro dia assisti em um seriado de TV uma personagem perguntar para outra: Você vai para praia? Com este corpo? E os apelidos tidos como engraçados deram sequência a piadas desnecessárias.
Em uma época onde adolescentes desaproveitam dos prazeres da juventude em nome de corpos perfeitos, o que dizer aos que simplesmente jamais serão galgazes? O que significa estar fora dos padrões de beleza idealizados? Para muitos significa sentir-se deslocado, castrado, limitado. Muitos jovens têm vergonha do corpo, deixam de ir a praia, deixam de ser livres. E assim é, porque fiscais da beleza apontam por todos os cantos.
O cuidado com a saúde é bem diferente da padronização estética e da função de agradar olhares críticos e, por vezes, cruéis.
Há pessoas de músculos perfeitos e fígado nem tanto; outras de músculos e fígado perfeitos; outras que nem sabem mais o que é sentar-se a mesa com prazer. Em nome dessa padronização e de um peso dito ideal, arrogante e muitas vezes inalcançável, muitos praticam um exercício cruel de autoflagelação.
Não suporto mais ouvir e ler sobre glúten, lactose, como perder a barriga em três dias ou como trazer o músculo amado e perfeito em três dias. Tenho pavor de piadas sobre gordos e seus respectivos apelidos; pavor dos egoístas padrões de beleza da sociedade moderna que nem tão moderna é, contrário fosse já teria aprendido a respeitar todas as formas de amor, de corpos e de prazer.
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